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Strike do governo no setor de energia brasileiro, por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, fala sobre as deficiências do setor brasileiro de energia.

PRO9581 SÃO PAULO/SP 08/11/2005 ECONOMIA/OE Seminário “Proálcool – 30 anos depois”, promovido pelo Grupo Estado em parceria com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo. Na foto, a apresentação do Segundo Painel, com o tema “Etanol de cana-de-açúcar – o biocombustível de hoje”, com Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura. Foto MONALISA […]
PRO9581 SÃO PAULO/SP 08/11/2005 ECONOMIA/OE Seminário “Proálcool – 30 anos depois”, promovido pelo Grupo Estado em parceria com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo. Na foto, a apresentação do Segundo Painel, com o tema “Etanol de cana-de-açúcar – o biocombustível de hoje”, com Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura. Foto MONALISA […]

Por Adriano Pires*

O governo federal promoveu nos últimos dez anos um verdadeiro strike no setor de energia no Brasil. Para aqueles que não costumam jogar boliche o strike e aquela jogada na qual com um único arremesso você derruba todas as peças.

E o governo com uma única política baseada no populismo dos preços e na utilização política do setor conseguiu derrubar a segurança jurídica e a estabilidade regulatória do setor e consequentemente deixar o país vivendo o cenário do desabastecimento.

O primeiro a ser derrubado e hoje o mais visível para todos foi o do petróleo, tendo como a principal vítima a Petrobras. A derrubada teve inicio quando foi anunciada a descoberta do pré-sal, fato que levou ao fechamento do mercado de petróleo no país.

De lá para cá não ocorreram mais leilões, o governo aprovou um novo marco regulatório intervencionista, os investimentos privados tomaram a direção de outros países, deixaram de ser gerados aqui uma enorme quantidade de empregos e a produção de petróleo estagnou, e a velocidade do pré-sal tem sido a de um carro mil. Nos combustíveis a derrubada também foi geral.

O governo congelou os preços da gasolina e do diesel, estimulou o consumo e com isso o Brasil passou a importar cada vez mais todos os derivados de petróleo. O pior é que com esse aumento do consumo e das importações os prejuízos da Petrobras têm crescido de forma espetacular, da mesma forma que a dívida da empresa. Nunca na história deste país a Petrobras esteve numa situação tão ruim.

Não satisfeito em derrubar a peça Petrobras, o governo também fez o mesmo com o etanol e o biodiesel. Com os preços congelados da gasolina, o etanol perdeu competitividade, a produção cresceu pouco e o país passou a importar o produto dos Estados Unidos.

E, o que é pior, passamos a exportar etanol de cana, ambientalmente melhor, e a importar o de milho. Ou seja, passamos a limpar o ar que os americanos respiram.

No caso do biodiesel, o setor está sem marco regulatório, sem previsibilidade de aumento da mistura no diesel e com isso as empresas, a cada dia que passa, encontram mais dificuldades para sobreviver.

No setor elétrico, o governo também promoveu a derrubada total. Ao só se preocupar com a modicidade tarifaria e ao abandonar a segurança de abastecimento, bem como a preocupação com o uso eficiente da energia, o governo quebrou o caixa da Eletrobras, gerou insegurança jurídica e regulatória e incentivou o consumo de energia elétrica num contexto de escassez.

Não entendeu que o aumento da oferta de forma estruturada só ocorre num contexto de concorrência e que não e através de decretos presidenciais que se abaixa os preços. Na realidade, o governo sempre confunde ou quer nos confundir entre o conceito de preços baratos e preços competitivos.

A energia, tanto no Brasil como no mundo, tende a ser cada vez mais cara, portanto, o que precisamos e estabelecer uma política tributária que ajude a energia a ser competitiva.

Ao vender a ideia de energia barata o governo engana o consumidor e penaliza o contribuinte e o pior, no médio prazo promove o desabastecimento.

*Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE)