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Meio Ambiente

Pesquisa estuda emissões de queimadas na Amazônia

Amazônia está entre as quatro maiores regiões do globo em termos de queima de biomassa.

Pesquisa estuda emissões de queimadas na Amazônia

Para entender como as emissões de queimadas na Amazônia estão alterando o clima local e de todo o planeta, um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos tem sobrevoado a região desde o dia 12 de setembro. Com o auxílio de equipamentos de ponta, os cientistas coletam dados sobre a composição química e as propriedades físicas da fumaça emitida.

Além disso, eles verificam de que forma os gases e as partículas sólidas lançados no ar modificam a composição das nuvens, alteram a química da atmosfera e interagem com a radiação solar. “Foram realizadas 35 horas de voo até o momento. Nossa meta é chegar entre 60 e 70 horas até 5 de outubro, quando termina a fase de coleta de dados”, disse Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do projeto South American Biomass Burning Analysis (SAMBBA).

O SAMBBA, resultado de uma parceria entre a USP, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Universidade de Manchester, no Reino Unido, e o serviço meteorológico britânico, conhecido como UK-Met-Office, foi destaque esta semana na sessão de notícias do site da revista Nature.

A iniciativa conta com apoio do Natural Environment Research Council (Nerc), da Inglaterra, que ajudou a financiar a aeronave. Os equipamentos usados na coleta de dados foram cedidos por diversas universidades britânicas. No Brasil, os experimentos estão sendo financiados pela Fapesp, por meio de dois projetos de Auxílio à Pesquisa – Regular, um coordenado por Artaxo e outro por Karla Longo, do Inpe.

“O projeto teve origem em uma cooperação já existente há vários anos entre Inpe e UK-Met-Office para o desenvolvimento de modelos de previsão climática”, contou Longo. Tanto os pesquisadores britânicos como os brasileiros, acrescentou Longo, sentiam a necessidade de melhorar a previsibilidade dos modelos para a região amazônica. “Ainda não é bem conhecido o impacto das queimadas na previsão do clima”, disse.

Ben Johnson, do Met Office do Reino Unido, destaca que a Amazônia está entre as quatro maiores regiões do globo em termos de queima de biomassa. “Realizamos experimentos semelhantes em países como Canadá e África do Sul. As previsões de nosso serviço de meteorologia abrangem todo o globo e esperamos, com esses dados da América do Sul, melhorar a qualidade das previsões”, disse.

Planejamento – Uma grande equipe de cientistas participa do planejamento das missões de coleta de dados, que abrangem a maior parte da Bacia Amazônica, contou Artaxo. Para isso, são analisados dados de satélites, projeções feitas pelos modelos climáticos já existentes e informações da Aerosol Robotic Network (Aeronet) – uma rede que, em parceria da USP com a Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, faz medições frequentes da coluna de aerossóis, as partículas sólidas da fumaça, sobre a Amazônia.

“Combinamos todas essas informações para decidir aonde voar e que tipo de voo fazer. Podemos fazer medições a 150 metros de altitude, para analisar as propriedades da fumaça recentemente emitida, ou a 12 km de altitude, para ver as alterações físico-químicas sofridas pela fumaça envelhecida e transportada pela convecção”, explicou Artaxo.

O avião de pesquisa, um grande jato de quatro motores, é equipado com instrumentos como espectrômetros de massa, monitores de ozônio, gases de efeito estufa e fotômetros de absorção e espalhamento de luz. Há também o equipamento Lidar, um laser que mede a distribuição vertical de partículas de aerossóis a cada segundo.

“Os equipamentos conseguem fazer medidas extremamente precisas e em alta resolução temporal. No caso dos gases de efeito estufa (CO2, CH4, N2O), por exemplo, a margem de incerteza é de 0,1%”, disse Artaxo.

Segundo o pesquisador, estão sendo analisadas tanto as emissões resultantes do desmatamento quanto as relacionadas à prática de queimadas da agricultura e de manutenção de pastos. “Embora esses dois tipos de queimadas se concentrem em regiões diferentes da Amazônia – desmatamento ao norte, na região do norte do Mato Grosso, e agricultura mais próximo da fronteira com o Cerrado -, as emissões estão relativamente perto e se misturam na atmosfera”, disse.

Um dos objetivos do estudo é avaliar a diferença entre esses dois tipos de emissões e a contribuição de cada um deles para o efeito estufa e as mudanças climáticas na região. “Medimos a quantidade de sulfato, de nitrato e de material orgânico na fumaça em tempo real. Também analisamos as propriedades físicas das partículas sólidas, como tamanho desde 10 nanômetros e os coeficientes de absorção e de espalhamento de radiação. Tudo isso está relacionado com o impacto das emissões sobre o clima e o balanço radiativo terrestre”, disse Artaxo.

O grupo também mede as concentrações de monóxido de carbono, de ozônio, de óxidos de nitrogênio e de compostos orgânicos voláteis. “Existe uma enorme gama de compostos orgânicos voláteis e muitos deles nunca foram medidos em queimadas no Brasil”, afirmou.
Após o término da coleta de dados, terá início o processo de análise da grande quantidade de informações e de aprimoramento dos modelos climáticos que, segundo os cientistas, deve durar cerca de quatro anos. “Modelos climáticos são representações numéricas dos processos químicos e físicos que acontecem na atmosfera. É necessário, portanto, conhecer bem os fenômenos para construir um conjunto de equações que os representem de forma precisa”, destacou Longo.

Também participam da coordenação do SAMMBA os pesquisadores Hugh Coe e Saulo Freitas, da Universidade de Manchester e Inpe, respectivamente.