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Economia

Para governo, superávit comercial pode cair para até US$ 10 bi neste ano

Se confirmado a previsão da equipe econômica, o saldo será o menor desde 2001.

Para governo, superávit comercial pode cair para até US$ 10 bi neste ano

O governo prevê que o saldo comercial vai ser menor neste ano, atingindo algo entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões, resultado muito menor que os US$ 29,8 bilhões do ano passado. Se confirmado, será o menor superávit comercial desde 2001, quando começou a arrancada do comércio exterior, com saltos anuais de exportações, puxadas principalmente pelas commodities. As exportações devem ter crescimento marginal sobre o resultado do ano passado (US$ 256 bilhões), e as importações podem chegar a cerca de US$ 235 bilhões, ou seja, US$ 10 bilhões a mais do que em 2011.

O principal temor não está na lenta recuperação dos Estados Unidos ou no desenrolar da recessão na União Europeia, mas no ritmo de desaceleração da China. O Banco Central trabalha com uma desaceleração mais forte da economia chinesa do que prevê o mercado, o que derrubaria a demanda por commodities e, assim, as exportações. A redução seria mais forte em volume, uma vez que os preços, ainda que em queda, não cairiam na mesma proporção.

.A grande aposta para a aceleração do Produto Interno Bruto (PIB), o forte consumo das famílias e a retomada dos investimentos, deve aprofundar a demanda por importações. O governo avalia que as importações serão especialmente fortes em bens de capital (que foram 16,8% maiores em 2011 na comparação com 2010), combustíveis e lubrificantes (42,7%, em igual comparação) e bens de consumo, que já tinham aumentado 27,5% entre 2010 e 2011.

Se a China efetivamente reduzir seu ritmo de crescimento como se prevê, diz uma fonte da área econômica, com o PIB deixando de crescer a taxas próximas a 10% ao ano, para algo em torno de 8% neste ano, “vamos vislumbrar os problemas que teremos para garantir superávits comerciais a partir de 2013”.

A China foi o principal destino dos produtos brasileiros em 2011. O país comprou US$ 44,31 bilhões do Brasil, representando uma forte alta de 44% em relação a 2010. Os principais produtos foram soja e minério de ferro. O segundo maior mercado para as exportações brasileiras são os Estados Unidos, que em 2011 adquiriam US$ 25,9 bilhões em bens e serviços brasileiros, resultado 33% superior ao do ano anterior, e com uma pauta de importações mais diversificada.

“Precisamos criar portas de saída para as exportações de bens manufaturados, de forma a preparar a economia para uma nova fase, em que as commodities não terão preços tão inflados como anteriormente, nem a demanda por elas será tão vigorosa”, avalia um economista do governo, que cita as medidas do programa Brasil Maior como um primeiro passo. “Mas é preciso muito mais”, afirma.

A equipe econômica trabalha ativamente em duas frentes: enquanto a Receita Federal busca formas de agilizar a liberação do equivalente a 3% em créditos tributários acumulados pela indústria exportadora, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) prepara novas medidas de estímulo.

Os novos incentivos à indústria exportadora em estudo no MDIC não serão de ordem fiscal, uma vez que o Ministério da Fazenda já sinalizou que desonerações não estão liberadas até junho, momento em que a equipe econômica já terá uma visão mais apurada da trajetória da arrecadação federal. O governo trabalha com uma meta de R$ 139,8 bilhões de superávit primário, e os técnicos em Brasília entendem as desonerações já concedidas (à eletrodomésticos da linha branca, além daquelas incluídas no Brasil Maior) estão hoje no limite.

“Não há risco de déficit comercial até 2014, mas já entramos em território de alerta”, disse uma autoridade da equipe econômica. “Isso significa que o período em que o saldo comercial saltava graças à forte demanda externa e os preços em alta no mercado internacional, entre 2002 e 2011, ficou para trás”, afirmou.

Do momento em que o real se desvalorizou fortemente em relação ao dólar, em 2002, a 2006, o saldo comercial deu saltos anuais, saindo de US$ 13,1 bilhões para US$ 46,4 bilhões. De lá para cá, o saldo caiu ano a ano, à exceção de 2011, quando os preços elevados das commodities no primeiro semestre impulsionaram um resultado mais elevado. Se confirmada a previsão do governo, de um saldo entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões neste ano, o resultado será o mais próximo do período entre 1995 e 2001, quando o governo praticou uma política de câmbio valorizado fixo (1994-1999).