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Opinião

Mudanças climáticas: como elas interferem na economia brasileira?

Diversos investimentos têm sido realizados com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola e podem evitar maiores perdas futuras.

Mudanças climáticas: como elas interferem na economia brasileira?

* Por Marina Dall’Anese

As mudanças climáticas já impactam de diferentes formas todos os países do mundo, pois causam alterações no regime de chuvas, no uso dos solos e na disponibilidade de alimentos. No Brasil, as características da economia fazem com que seja um exercício imediato traçar um paralelo entre as consequências ambientais, sociais e econômicas do aquecimento global, uma vez que nossa matriz energética é diretamente dependente da disponibilidade de recursos hídricos e disso depende toda a produção econômica agrícola e industrial.

Cerca de 45% da matriz energética brasileira é renovável, ou seja, composta por processos que não envolvem o uso de matéria-prima não renovável, como os combustíveis fósseis. Em países desenvolvidos, a proporção média da matriz energética renovável é de 13%, o que faz do Brasil o país com a matriz energética das mais renováveis do mundo. No entanto, em um cenário de alterações climáticas, esses números nos colocam como um dos países mais vulneráveis, com impacto direto nos setores industrial e agropecuário – maiores consumidores de energia no Brasil.

O investimento necessário para a geração de energia através de usinas hidrelétricas é menor do que o investimento em usinas eólicas ou solares, podendo esse valor chegar a um terço em relação às demais possibilidades. O setor agropecuário representa mais de 22% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ao mesmo tempo em que se destaca pela vulnerabilidade às consequências do aquecimento global, uma vez que nossas culturas estão localizadas em regiões com temperaturas elevadas – que deverão aumentar ainda mais – reduzindo a produtividade e a renda agrícola e, consequentemente, impactando negativamente no desenvolvimento econômico do país. Estima-se também o aumento dos níveis de pobreza, migrações, alteração da geografia das cultivos no país – com migração de regiões tradicionais para novos centros – e, potencialmente, elevação dos preços dos itens básicos da alimentação.

O Brasil é o segundo maior exportador de produtos agrícolas do mundo, atrás somente dos Estados Unidos, portanto, alterações na produtividade brasileira irão impactar o preço e o suprimento de alimentos ao redor do mundo. Internamente, as alterações climáticas trarão impactos a toda a cadeia relacionada à produção agropecuária. Estima-se que as perdas atuais no setor agrícola devido às mudanças climáticas já estejam em R$ 5 bilhões por ano, cerca de 1% do PIB Agrícola nacional, e deverá atingir R$ 7,5 bilhões ao ano já em 2020.

Diversos investimentos têm sido realizados com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola e podem evitar maiores perdas futuras. Estes estão relacionados ao desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias ou técnicas de plantio – como o plantio direto, em que há menor revolvimento do solo, menor demanda por fertilizantes, menor emissão de gases de efeito estufa,e assim por diante. Além disso, é menos intensiva em capital, podendo promover a distribuição de renda e produção apenas pela capacitação e investimentos menores.

Em um cenário majoritariamente de monocultura, como a soja, a cana-de-açúcar, feijão, café entre outros, a retomada do cultivo de produtos tradicionais e a capacitação por meio de técnicas produtivas com baixo impacto relativo ao aumento da produtividade, são exemplos de ações que visam a adaptação às alterações climáticas previstas, buscando o melhor cenário para reduzir os impactos que o aquecimento global poderá causar, tanto econômicos quanto sociais.

* Marina Dall’Anese é gestora ambiental pela USP, analista de negócios da www.neutralilzecarbono.com.br e consultora da www.greendomus.com.br.