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Biocombustível

Milho se valoriza em MT com demanda extra de usinas de etanol

Boletim do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária divulgado esta semana projeta um incremento de 36,22% na demanda por parte dessas usinas no intervalo de apenas um ano

Milho se valoriza em MT com demanda extra de usinas de etanol

De produto secundário, coadjuvante da soja, com baixa remuneração, o milho vem se credenciando como protagonista no cenário agropecuário do Centro-Oeste. A demanda externa pelo grão – no ano passado, o País bateu o recorde de exportações de milho – e o aquecimento do mercado de carnes, que é o principal consumidor do insumo, vêm ajudando na alta de preços da commodity agrícola.

Agora, mais um sério concorrente pelo grão desponta na região, garantindo, pelo menos por enquanto, a firmeza de preços: as usinas de etanol de milho, instaladas sobretudo em Mato Grosso. Boletim do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) divulgado esta semana projeta um incremento de 36,22% na demanda por parte dessas usinas no intervalo de apenas um ano.

A estimativa é de que o esmagamento de milho para produção de etanol consuma 6,002 milhões de toneladas no ciclo 2019/2020, ante 4,406 milhões de toneladas 2018/2019. Caso a safra de inverno (a safrinha) repita o desempenho do ano passado (perto de 32 milhões de toneladas), o segmento estará consumindo 18,8% de todo o milho produzido em Mato Grosso.

A demanda é puxada pela expansão do número de usinas em operação. Em maio de 2019, a União Nacional do Etanol de Milho contabilizava o funcionamento de 10 unidades em todo o Brasil, entre flex (processamento de milho e de cana) e full (uso exclusivo do milho como matéria-prima). Os dados mais recentes (10 meses depois) já mostram 15 plantas ativas em 2020 (gerando perto de 2,7 bilhões de litros de etanol de milho/ano) representando, segundo a entidade, 8% de todo o etanol do País. Só em Mato Grosso, considerado o principal Estado produtor, este número subiu de cinco para oito indústrias em funcionamento.

Essa conjunção de fatores – exportações em alta e consumo interno aquecido e reforçado pelas usinas de etanol – pode ter colaborado de forma efetiva para a escalada do preço do milho. Pela série histórica de cotações do Imea, a saca de 60 kg em Rondonópolis (MT), que era vendida a R$ 21,35 em 1º de março de 2018, atingiu R$ 29,65 (+41,8%) um ano depois e bateu nos R$ 42 na última segunda-feira (2 de março), um avanço de 97% em dois anos. Para quem fez negócios em Tangará da Serra (MT), a saca saiu de R$ 16,70 (2 de março de 2018) para R$ 39,50 (2 de março de 2020), em um salto de 136,5%.

 
Enquanto o produtor de milho comemora, o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, faz as contas, vê riscos no médio prazo e dispara um alerta quanto à possibilidade de o cronograma dos investimentos industriais previstos para os próximos anos não se concretizar. “O etanol deu vida ao preço do milho no Centro-Oeste. A saca em MT, que flutuava em um patamar entre R$ 10 e R$ 20, passou a ser negociada entre R$ 20 e R$ 30, uma faixa que consideramos viável para todos os elos da cadeia em Mato Grosso. Já mantive conversas com investidores. Caso valores acima disso se mantenham por mais tempo, isso poderá inibir mais de uma dezena de novos projetos de usinas que temos hoje sobre a mesa”, avisa.

A Unem contabiliza hoje duas novas usinas em construção (ambas em MT, com capacidade para produzir, juntas, mais 900 milhões de litros/ano) além de 14 projetos: 12 em Mato Grosso, um em Goiás e outro em Roraima (ainda sem níveis de produção informados).

Mas Nolasco espera que, a partir da colheita da safra 2019/2020, que deve ter início em maio, o preço da saca de milho recue. “Valores na casa de R$ 40 reais não sustentam o mercado. Hoje as indústrias estão esmagando milho adquirido em 2019 a preços entre R$ 24 e R$ 26 a saca. As cotações atuais devem se manter até a colheita deste ano. E, caso haja uma avalanche de plantio estimulada por uma valorização excessiva, poderemos ter uma superoferta de milho lá na frente”.

Mas há quem entenda que a demanda por etanol de milho não tenha tanta força a ponto de empurrar, sozinha, o preço do cereal para patamares tão altos. Na opinião do presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Antonio Galvan, vários fatores colaboraram com o desabastecimento do produto e puxaram para cima o preço do cereal.

“Uma quebra de safra maior do que a prevista nos Estados Unidos, a redução da janela de plantio em grades Estados produtores como Mato Grosso do Sul e Paraná, além de problemas climáticos no Rio Grande do Sul, colaboraram muito com isso. Também passou a faltar o produto no mundo, sobretudo a partir de uma maior produção de carnes, que invariavelmente demanda milho como insumo”, explica.

Galvan projeta uma safra de milho na casa de 34 milhões de toneladas em Mato Grosso este ano (algo em torno de 2 milhões de toneladas superior à anterior), mas prefere não bater o martelo. “Chuvas contínuas podem atrasar o plantio em algumas regiões e prejudicar os resultados finais. No entanto, a tendência é de que os preços se mantenham firmes este ano. Mas de uma coisa posso afirmar: não são quatro ou cinco usinas de etanol de milho que vão sustentar isso.”