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Mobilidade

Mercado de veículos elétricos deve crescer até 500% em cinco anos

Dados da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) apontam que o número de carros convencionais será inferior ao de veículos elétricos nos próximos 20 anos

Mercado de veículos elétricos deve crescer até 500% em cinco anos

O mercado nacional de veículos elétricos e híbridos deve crescer de 300% a 500% nos próximos cinco anos. É o que indica uma pesquisa da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve). Atualmente, a frota soma 16 mil. A projeção mundial é ainda mais otimista. Segundo o relatório da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), 56 milhões de carros elétricos circularão até 2040. Hoje são 2 milhões de veículos desse tipo nas ruas de todo o mundo.

A tendência, portanto, é que o mercado dos carros movidos a combustão entre em queda ao longo dos anos. De acordo com a mesma pesquisa da BNEF, nas próximas duas décadas, o número de carros convencionais será inferior ao número de veículos elétricos: 42 milhões. A previsão de guinada no mercado de carros elétricos e consequentemente o desuso de carros convencionais se deve ao avanço de tecnologias nas áreas de Engenharia.

Como os carros elétricos funcionam

Os veículos elétricos funcionam através de um motor movido a eletricidade, diferente dos carros convencionais, movidos a combustão interna. A eletricidade pode vir de algumas fontes como baterias, queima de combustíveis tradicionais ou queima de hidrogênio.

A principal vantagem do veículo elétrico é a eficiência energética, com pequenas perdas e altos rendimentos. O motor elétrico pode alcançar eficiência de 85% a 98%, dependendo da tecnologia. Já o carro movido a combustão é pouco eficiente. Dois terços se perdem no meio do processo: um terço da energia do combustível, seja gasolina, etanol ou diesel, é perdida em gases; o outro terço é perdido em água de refrigeração.

O Engenheiro Mecânico Ricardo Vidinich explica que os veículos elétricos não acompanharam a mesma evolução dos carros a combustão, principalmente, pela inviabilidade do uso de baterias. “No passado, as baterias eram muito grandes, pesadas e duravam pouco. Hoje, estão ficando cada vez mais eficientes, baratas e duráveis”, diz.

Segundo ele, a tendência é que os veículos elétricos se tornem mais viáveis economicamente ao consumidor final com o desenvolvimento de novas tecnologias e consequente barateamento das baterias. No Brasil, o custo do carro elétrico é mais que o dobro do carro convencional.

“Imagine trocar um tanque de combustível, que custa em torno de R$ 250, por um conjunto de baterias que custa cerca de R$ 50 mil. Esse é um dos motivos do custo do carro elétrico ser muito maior que o comum”, aponta Vidinich. Outra tecnologia que está sendo melhorada é o ciclo de vida das baterias utilizadas nos carros elétricos. Com o tempo e uso, ocorre a perda de capacidade de armazenamento.

“Um veículo novo, por exemplo, consegue andar 300 km com uma carga. Mas depois de três anos, o mesmo veículo só vai conseguir andar 150 km; após cinco anos, apenas 70 km. Ou seja, o carro continuará funcionando com as mesmas baterias, mas a capacidade será menor. Por este motivo, estão sendo desenvolvidas baterias de ultratecnologia”, justifica o Engenheiro Mecânico.
 
Segundo os especialistas, ainda há outros empecilhos como políticas públicas de incentivo. “Nos países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, as taxações dos veículos elétricos são diferentes, o que influencia no preço final para o consumidor, considerando também que o poder aquisitivo nesses países é maior, logo, os preços dos veículos são relativamente menores”, aponta Vidinich.

O sócio-fundador da Hitech-e, empresa paranaense de veículos elétricos, Rodrigo Contin, também compartilha da opinião. “Já houve alguns benefícios concedidos pelo governo, mas o carro elétrico ainda é bem mais caro que o carro a combustão. Se olharmos para os países que estão à nossa frente, percebemos que os governos foram bem mais agressivos em relação a políticas tributárias. No Brasil, como o volume de produção é baixo, o impacto na receita também é menor. Acredito que precisamos de incentivo por alguns anos para acelerar a tecnologia e viabilizar a entrada do produto.”

Empresa paranaense fabrica e vende veículos elétricos

Outra vantagem do veículo elétrico é o benefício para o meio ambiente. De acordo com o BNEF, em 2040, os níveis de emissões de gases tóxicos devem voltar ao patamar de 2018 com a popularização dos veículos elétricos. De acordo com a Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), os transportes são responsáveis por 46% das emissões de gases de efeito estufa.

No Brasil, pequenas e grandes montadoras investem na fabricação de veículos elétricos em pequena escala. A Hitech Electric é uma startup que oferece modelos de carros e caminhões. Com sede em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, é a única empresa brasileira que possui quatro modelos de veículos urbanos elétricos homologados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). No portfólio há carros de dois e quatro lugares, além de caminhões baú e caçamba.

“Já fizemos vendas por todo o Brasil, desde o Norte ao Sul. Ainda não temos porte de montadora, mas estamos criando uma”, diz Rodrigo Contin, sócio-fundador da empresa. Contin explica que os veículos são trazidos da China. A base de pesquisa e desenvolvimento fica na Zona Franca de Manaus. “Lá, temos nove engenheiros que trabalham financiados pela Positivo Tecnologia, nosso investidor.”
 
A proposta é voltada para empresas de aplicativos de mobilidade urbana, frotistas e early adopters, pessoas que têm afinidade com tecnologia e inovação. Em janeiro, a Hitech pretende lançar o primeiro carro autônomo desenvolvido no Brasil. “Depois disso, queremos expandir para outros produtos como moto elétrica e caminhões e carros de porte maior. Também pretendemos aumentar o volume dos carros desenvolvidos”, destaca.

Itaipu deve entregar ônibus híbrido-etanol em 2020

Os estudos e desenvolvimentos de tecnologias de mobilidade elétrica pela Itaipu Binacional começaram em 2006. A empresa binacional firmou um acordo de cooperação técnica com a suíça Kraftwerke Oberhasli AG – KWO. “A realidade econômica dos países é distinta. A Suíça, por exemplo, tem fornecedores de componentes de veículos elétricos, enquanto no Brasil não temos. Nossos engenheiros foram para lá e trouxeram conhecimento para desenvolver a tecnologia no nosso país. A partir de 2006, tivemos o primeiro veículo licenciado pelo Denatran no Brasil e, depois disso, surgiram parcerias com empresas brasileiras públicas e privadas”, conta Márcio Massakit Kobo, Engenheiro Eletricista da Itaipu Binacional.
 
A Fiat foi uma das primeiras empresas a estabelecer parceria com a Itaipu. “Depois vieram a Renault, a Iveco, a BMW, a WEG, Baterias Moura, Eletrobras, entre outras empresas do Setor Elétrico, só para citar algumas”, diz. “O projeto visava cooperação para estudos de viabilidade técnica da tecnologia de veículos elétricos realizada entre diversas entidades públicas e privadas, incluindo empresas de energia, com o objetivo de compartilhar conhecimento e incentivar o desenvolvimento e a produção de veículos elétricos com conteúdo nacional, bem como preparar o setor elétrico para a transição energética”. O convênio com a KWO já foi encerrado, mas a mobilidade elétrica foi incorporada ao Programa de Energias Renováveis da Itaipu.

Em 2010, a Itaipu iniciou um projeto de ônibus elétrico híbrido-etanol e de bateria de sódio-níquel com desenvolvimento nacional (e estimativa de custo de produção de metade das baterias de lítio). No veículo híbrido, a energia do etanol é destinada a carregar as baterias. Tanto o projeto da bateria de sódio-níquel quanto do ônibus possuem apoio da Financidadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

“Este ônibus terá as tecnologias mais modernas do mundo, com piso baixo em toda a sua extensão, dando acessibilidade total para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, baterias 100% recicláveis, sistema de tração de última geração, utilização de ímãs permanentes e biocombustível”, explica Massakiti. “As baterias de sódio-níquel, utilizadas no ônibus também são adequadas para uso em países tropicais, porque trabalham em alta temperaturas, diferente das de lítio que necessitam de refrigeração para manutenção da vida útil”’, completa. A entrega do projeto e do protótipo do veículo estão programadas para o ano que vem.