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GNL

Maior usina térmica a gás da América Latina não opera desde 2020

Com 1,5 GW de potência, UTE Porto de Sergipe I é capaz de atender 15% da demanda de energia do Nordeste

Maior usina térmica a gás da América Latina não opera desde 2020

Maior usina térmica a gás da América Latina, a UTE Porto de Sergipe I, não gera energia ao sistema elétrico nacional desde o ano passado, mesmo em meio ao estresse hídrico e à necessidade crescente de acionamento de térmicas.

Movido a gás natural liquefeito (GNL) importado, o empreendimento entrou em operação comercial em março do ano passado e foi oficialmente inaugurado no mês de agosto, em cerimônia com a presença do presidente Jair Bolsonaro e do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

A inatividade nos últimos meses chamou atenção, principalmente por causa do porte da usina. Com uma potência de 1,5 gigawatt (GW), a UTE Porto de Sergipe é capaz de atender 15% da demanda de energia do Nordeste, ou 16 milhões de pessoas. Sua capacidade instalada poderia elevar em quase 10% o despacho térmico atual, que tem atingido cerca de 17 GW.

Desde que foi oficialmente inaugurada, a usina operou em setembro e dezembro do ano passado, de acordo com dados disponíveis no site do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Neste ano, ainda não chegou a ser despachada. A previsão é de que ela volte a integrar o sistema em julho.

A Centrais Elétricas de Sergipe (Celse), responsável pela usina, admitiu que o empreendimento teve que realizar manutenções em suas turbinas nesse meio tempo. Inclusive, dois equipamentos estão passando por manutenção nesta semana, de 20 a 26 de junho. Mas, segundo a Celse, esses procedimentos não teriam impedido o despacho. “A usina não foi acionada por decisão do ONS, que não fez o pedido”, informa em nota.

Procurado, o ONS informou que a usina “estará integrada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir de 3 de julho”, mas não deu mais detalhes.

Segundo especialistas, uma hipótese é de que o modelo do ONS pode não ter identificado a necessidade de acionamento dessa usina para atender a demanda de energia da região, ainda que a usina tenha custo variável Unitário (CVU) relativamente baixo (cerca de R$ 300 por MWh) e o país venha convocando mais térmicas para gerar diante da escassez hídrica.

Isso teria ocorrido porque o Brasil tem cada vez mais geração de energia inflexível hídrica e térmica (não controlável), aliada a fontes com custo operativo praticamente zero, como a eólica e a solar, que também “passam na frente” de outras tecnologias de geração. Com essa combinação, há cada vez menos espaço para despachos, seja de térmicas ou de hidrelétricas.

No ano passado, 75% da carga global de energia foi atendida com geração inflexível total, aponta o Plano de Operação Energética 2020 do ONS. Apenas 25% da demanda representou, para o sistema, necessidade de despacho hidrotérmico por ordem de mérito.

“Com a geração hídrica, as renováveis e a importação de energia do Norte, é possível que o modelo não tenha visto necessidade de acionamento [da UTE Porto Sergipe] para atender a carga do Nordeste”, explica Donato da Silva Filho, presidente da consultoria Volt Robotics.

Pela programação do ONS, a UTE Porto Sergipe voltará a operar em julho. Essa térmica funciona no modelo de despacho antecipado: por operar com combustível importado, precisa ser avisada com 60 dias de antecedência de quando precisará entrar em atividade. O ONS emitiu em maio o aviso para a térmica, de forma que o despacho começa no início de julho.

Localizada em Barra dos Coqueiros (SE), a UTE Porto Sergipe converte GNL importado em energia elétrica. O empreendimento conta com três turbinas a gás e uma turbina a vapor em ciclo combinado, e também com instalações marítimas. A usina foi viabilizada pelo leilão de energia nova “A-5” realizado em 2015, no qual a Celse garantiu contratos de 25 anos com o mercado regulado. A Celse foi constituída em 2015 pela EBRASIL (Eletricidade do Brasil) e pela Hygo (ex-Golar Power). No início deste ano, a Hygo foi adquirida pela americana New Fortress Energy, em meio a uma série de aquisições no setor de gás que somaram pelo menos US$ 5 bilhões.