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Sustentabilidade

Fogão movido à biomassa melhora a vida de comunidades africanas

Aumentar a eficiência energética foi uma das formas encontradas para minimizar o problema da escassez de combustível e substituir o uso de carvão.

Fogão movido à biomassa melhora a vida de comunidades africanas

Pesquisadores da Embrapa Florestas (PR), em parceria com a Universidade de Energia e Recursos Naturais, de Sunyane, em Gana, na África, desenvolveram um fogão de baixo custo, do tipo gaseificador. O objetivo é melhorar a qualidade de vida de comunidades do país africano, que muitas vezes preparam seus alimentos de forma rudimentar e estão sujeitas a inalar fumaça, ao calor excessivo e à escassez de combustível.

O novo fogão, além de melhorar questões como tempo de cozimento, ergonometria e segurança, é capaz de produzir o biochar, um condicionador para o solo com o uso de resíduos orgânicos locais. O produto promove a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas ou da atividade biológica do solo.

Um protótipo do fogão foi desenvolvido entre 2015 e 2016 e começou com um diagnóstico em 12 comunidades daquela região. Os pesquisadores mapearam as necessidades e desenvolveram um protótipo de aço composto por duas câmeras: uma interna e outra externa. O tubo central recebe o combustível feito de biomassa residual que pode ser lenha, casca de arroz, sabugo de milho, entre outras, e gera calor para cozinhar.

O cilindro externo recebe o calor do outro compartimento e, por estar sem circulação de oxigênio, carboniza resíduos agrícolas para gerar o biochar. Os resultados são um cozimento sem fumaça a partir de resíduos agrícolas, excelente eficiência energética e a produção de um condicionador orgânico que vai contribuir para melhorar características do solo de comunidades agrícolas de Gana.

Cozimento bem mais rápido

Aumentar a eficiência energética foi uma das formas encontradas pelos pesquisadores para minimizar o problema da escassez de combustível e substituir o uso de carvão proveniente de florestas nativas. Quando comparado ao fogareiro já usado no país, o gyapa, a invenção supera todos os índices de tempo de cocção. Para preparar a comida típica da Gana, o banku, foram necessários 42 minutos na gyapa e somente 12 no gaseificador. Já o arroz, passou dos 33 minutos para 18.

Além disso, a extração do óleo de dendê – uma fonte de renda para as famílias – também se mostrou mais eficiente no novo equipamento. Enquanto no utensílio tradicional são necessários 220 minutos, é possível fazer o mesmo processo em 150 minutos no protótipo desenvolvido. Para a extração, foi criada uma versão maior do gaseificador.

Outro benefício direto gerado pela solução apresentada pelos pesquisadores está na ergonomia. Acostumadas a cozinhar agachadas, agora as mulheres passam a ficar eretas. Segundo dados levantados na pesquisa, carvão e lenha representam 85% da energia de cozinha do país, mas são utilizados com baixa eficiência, além de prejudicarem a saúde de quem trabalha na cozinha por causa da inalação de fumaça.

Melhoramento do solo

Para determinar a possibilidade de uso dos resíduos orgânicos existentes nas localidades africanas, a Embrapa realizou testes em laboratório com sabugo de milho e casca de arroz, em que foram monitorados o poder calorífero, os materiais voláteis e o teor de cinzas, além de ensaio toxicológico com minhocas. De acordo com a pesquisadora Cláudia Maia, da Embrapa Florestas, o sabugo de milho se mostrou melhor como combustível para gerar energia e a casca de arroz para produzir o biochar.

“A produção do biochar é o grande diferencial desse projeto. Com esse material, é possível potencializar algumas características do solo como: maior retenção de água, aumento do teor de carbono, manutenção da fertilidade e redução da acidez”, afirma. Para potencializar o uso do biochar, multiplicadores passaram por um workshop e treinamento para repassar às comunidades locais.

Próximos passos

“Com o desenvolvimento do protótipo e a realização dos testes, agora nosso objetivo é avançar, por meio de parcerias, para o desenvolvimento do produto em larga escala. Precisamos divulgar melhor seus benefícios e disseminar seu uso”, comemora Gilbert Ayine Akolgo, professor da Universidade de Energia e Recursos Naturais e coordenador local do projeto.

Apesar do custo inicial do gaseificador (32 dólares o menor e 40 dólares o maior) ser maior do que o do gyapa, que custa 10 dólares, a expectativa é que, a partir do uso de resíduos agrícolas sem custo, possa haver uma compensação dessa diferença a curto e médio prazo. O produto se mostrou viável também para outros usos, como secagem de grãos e uso industrial.

Além dos benefícios ambientais e sociais gerados pelo projeto, a pesquisadora da Embrapa Cláudia Maia vê grandes possibilidades de transferência de tecnologia para artesãos locais, empresários e agricultores criando oportunidades de negócios. “Na próxima etapa do projeto, o objetivo é inserir o gaseificador em um sistema sustentável, com hortas orgânicas e conceitos de alimentação saudável e geração de resíduos zero”, explica Maia.  Foram identificadas também possibilidades de uso do equipamento em comunidades carentes no Brasil. Para isso, será preciso encontrar parceiros para viabilizar testes para melhoria de eficiência do gaseificador e das matérias-primas que podem ser utilizadas, de acordo com a pesquisadora.

Market Place

O projeto faz parte da plataforma Agricultural Innovation Marketplace, um trabalho de parceria realizado entre pesquisadores da Embrapa e colíderes de instituições da África, América Latina e Caribe. O Marketplace é apoiado por diversos parceiros, como a Fundação Gates, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) da ONU, o Banco Mundial e o Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID) e o Forum for Agricultural Research in Africa (FARA).