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Meio Ambiente

Falta de florestas ameaça operação de novas fábricas

"Apagão" florestal pode colocar em risco a execução de futuros projetos fabris de celulose e papel, painéis de madeira e energia renovável no país.

Um “apagão” florestal pode colocar em risco a execução de futuros projetos fabris de celulose e papel, painéis de madeira e energia renovável no país. É o que mostra um estudo da Pöyry Silviconsult, braço de consultoria em negócios florestais da finlandesa Pöyry, que comparou dados de oferta de madeira e demanda, nos próximos anos, e foi apresentado recentemente às companhias brasileiras.

Até 2020, conforme o documento, haverá déficit de no mínimo 1,3 milhão de hectares de florestas plantadas para abastecer projetos de expansão ou novas fábricas previstas por companhias de celulose, papel, painéis reconstituídos, biomassa, carvão, madeira serrada e laminados. “O ritmo de produção florestal não será suficiente para atender a demanda por madeira”, enfatiza o presidente da consultoria, Jefferson Bueno Mendes. “Em parte, isso é um risco. Em parte, é fato”, acrescenta.

Segundo Mendes, nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo, a falta de madeira ou áreas florestais para novos empreendimentos fabris já é realidade. Esse cenário contribuiu, por exemplo, para que a Klabin, maior fabricante brasileira de papéis para embalagens, se associasse à chilena Arauco na compra da Florestal Vale do Corisco, por US$ 473,5 milhões, no início do mês.

Com 107 mil hectares de terras, dos quais 63 mil hectares plantados, no nordeste do Paraná, a Florestal atende às necessidades de ambas em diferentes aspectos. De um lado, a Klabin garante madeira a custo acessível para a fábrica de celulose que deve erguer naquele Estado. De outro, a constituição da Centaurus Holdings, com 51% de participação da Klabin e 49% da Arauco, contorna a limitação de compra de terras por parte de estrangeiros imposta pela Advocacia-Geral da União (AGU) e garante à companhia chilena a possibilidade de expandir a produção local. O preço pago, contudo, embute prêmio “considerável”, segundo especialistas do setor florestal.

A escassez de oportunidades nessas regiões levou ainda ao surgimento de novas fronteiras para a indústria de base florestal. Mato Grosso do Sul já se consolidou como importante polo produtor de celulose, Minas Gerais atrai cada vez mais investidores e Maranhão, Piauí e Tocantins entraram no mapa dos projetos em análise ou execução. “Cada vez mais os projetos avançarão para o oeste”, destaca Mendes. “Contudo, os custos de logística também crescerão.”

Segundo o estudo da Pöyry Silviconsult, somente na indústria de celulose, a expectativa é a de que a produção nacional seja incrementada em 10 milhões de toneladas até 2020 – os projetos já anunciados envolvem volume ainda maior, de 17 milhões de toneladas por ano. “Caso todos os projetos sejam implantados, o déficit de área plantada será da ordem de 2,3 milhões de hectares”, aponta o levantamento.

Uma vantagem que a indústria de celulose leva sobre suas “concorrentes” por matéria-prima, conforme Mendes, está na capacidade de pagamento. Por operar com margens superiores, as produtoras da fibra têm maior fôlego financeiro do que a indústria de painéis e a de biomassa, exatamente nessa ordem. Hoje, a indústria de celulose absorve 37,5% da produção nacional de madeira. “Mas a concorrência será cada vez maior com os painéis e a bioenergia”, acrescenta.

Uma das maneiras de contornar a tendência de terras cada vez mais caras e escassas no país é a manutenção dos investimentos em produtividade – o Brasil já é considerado o estado da arte na área de eucalipto. A regulamentação também é apontada como importante iniciativa para garantir o crescimento da indústria de base florestal. “Por que um país como o Brasil, que tem 7 milhões de hectares de florestas plantadas, não tem ainda um Ministério de Florestas?”, diz Mendes.