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Economia

Eucalipto ganha força como fonte de geração de energia

Empresas investem no plantio de eucalipto para produção de energia.

Eucalipto ganha força como fonte de geração de energia

Nada de plantar eucalipto para as tradicionais produções de madeira para serrarias, papel e celulose. O novo apelo para o cultivo desta árvore de origem australiana que chegou ao Brasil no início do século passado é a geração de energia, como alternativa renovável ao petróleo e ao carvão mineral. As experiências nesta área são poucas, mas algumas empresas encontraram na energia fornecida pela queima da madeira plantada uma forma de abastecer o mercado europeu. A meta da Europa até 2020 é ter pelo menos 20% de sua matriz vinda de fontes renováveis.

Por enquanto, a Suzano Energia Renovável é a única empresa que planeja investimentos nesta frente com foco em seus negócios. A subsidiária recém-criada da Suzano Papel e Celulose passará a produzir pellets (pequenos pedaços cilíndricos de serragem compactada para queimar e gerar energia) a partir do corte de eucaliptos. Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Holanda são clientes em potencial.

Segundo André Dorf, presidente da subsidiária, o continente precisará de 12 milhões de toneladas de madeira por ano para ajudar a suprir sua demanda energética. Motivo mais do que suficiente para levar a Suzano a planejar aportes de US$ 1,3 bilhão até 2019 na produção de pellets em uma fábrica no Maranhão que deverá entrar em operação em 2014. Até o fim da década, o objetivo é atingir uma produção de 5 milhões de toneladas por ano.

“A pretensão da companhia é tornar-se líder mundial no setor”, declara Dorf. A mesma unidade maranhense deverá comportar também a produção de lignina, substância que confere rigidez à madeira usada na fabricação de insumos químicos e com potencial de cogeração de energia elétrica, como já informou o Valor.

O projeto da subsidiária da Suzano nasceu por meio de uma pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP). A Fibria, empresa de papel e celulose, e a Duratex, produtora de chapas de madeira para a indústria moveleira, também são parceiras do estudo. Por enquanto, a produção de ambas é direcionada para cogeração própria. As indústrias investem, ainda, em plantios próprios, sem contar com terras de agricultores independentes.

O vínculo do setor privado com a universidade está amparado no pioneirismo da pesquisa que encurtou o tradicional ciclo de sete anos do eucalipto, quando acontece o primeiro corte, para um período de 18 a 24 meses a partir de um plantio adensado. “Usamos diferentes espaçamentos entre mudas, com até cinco vezes mais árvores por hectare”, explica Saulo Guerra, coordenador do programa.

O estudo testa três diferentes distâncias entre árvores: de 1,5 metro, 1 metro e 0,5 metro, em comparação aos costumeiros 2 metros. O “aperto” é para forçar o crescimento dos eucaliptos, que competirão por luminosidade. Ao espichar, eles se tornarão árvores mais altas e magras. “O diâmetro não é importante porque não buscamos lenha ou madeira para serraria”, diz Saulo Guerra.

Segundo o professor, um hectare de plantio tradicional rende, por ano, cerca de 45 m3 de madeira. No espaçamento de 1 metro, por exemplo, é possível extrair em torno de 56,5 m3 do produto.

Bem antes da colheita, os pesquisadores asseguram-se que as mudas cultivadas em estufas climatizadas tiveram umidade controlada e adubação adequada para serem plantadas aos 60 dias. Quando crescidas, a equipe tem a função de medir o diâmetro e a altura das árvores a cada seis meses, e de contabilizar as perdas.

Antes mesmo que as plantações testadas pela universidade atinjam sua escala comercial, a New Holland, divisão da múlti americana CNH e também parceira na pesquisa, trabalha na adaptação de um equipamento que realiza o corte de seis a oito árvores de uma só vez e tritura a madeira formando cavacos (pequenos pedaços) em plena colheita. É a partir deles que são fabricados os pellets. “Estamos fazendo alterações porque o eucalipto plantado no Brasil é mais duro”, diz Samir Fagundes, coordenador de marketing da New Holland. Ele estima que a máquina será vendida por R$ 900 mil.

Saulo Guerra ainda elabora as contas dos custos deste plantio. Dependerá desse resultado a valorização desse novo modelo de silvicultura que vira energia.

Plantio continua a avançar em SP

Há dois anos, o Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria da Agricultura de São Paulo, acompanha o avanço do plantio de eucalipto em pequenas e médias propriedades do interior do Estado. A silvicultura tornou-se uma alternativa rentável em áreas montanhosas, de baixa fertilidade por conta de pastagens degradadas e, por isso, menos disputadas pela agricultura tradicional.

De acordo com Eduardo Pires Castanho Filho, pesquisador do instituto, 20% dos 989 mil hectares com eucaliptos contabilizados em 2010 são produzidos por pequenos e médios agricultores – cerca de 44 mil no total.

Eles alcançam uma rentabilidade anual calculada em R$ 750 a R$ 800 por hectare, superior à pecuária e semelhante ao plantio de cana-de-açúcar. A maior parte das colheitas é vendida para empresas de papel e celulose, cujas terras próprias precisam ser planas para permitir a mecanização, principalmente da colheita.

As indústrias do setor compram em torno de 29 milhões de m3 dos 45 milhões produzidos no Estado. No país, os cultivos com eucalipto abrangem quase 4,8 milhões de hectares, sendo que 55,8% estão concentrados na região Sudeste, conforme dados da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf).