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Etanol de milho

Estudo mostra viabilidade de produzir etanol de milho no Brasil

Produção do combustível poderia incentivar o crescimento do cultivo de milho, diz INTL FCStone.

Beaker of of ethanol and ears of corn shot on lightbox
Beaker of of ethanol and ears of corn shot on lightbox

Diante das crescentes safras de milho no Brasil, dificuldades de estocar e escoar esse produto e dos entraves para o etanol se estabelecer como uma alternativa viável em localidades distantes dos centros produtores, a INTL FCStone elaborou um estudo que mostra a viabilidade de produzir etanol de milho no Brasil.

Segundo o estudo, apesar da alta produtividade da cadeia sucroalcooleira, tanto em sua fase agrícola como industrial, atualmente apenas em quatro Estados (Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo) é vantajoso abastecer com etanol hidratado e não com gasolina automotiva (considerando que para ser economicamente viável abastecer com etanol, é necessário que seu preço fique abaixo de 70% do preço da gasolina).

– Nesse cenário, abre-se espaço para a análise de alternativas para o etanol e uma opção que vem sendo seguidamente cogitada é a produção do etanol de milho no Brasil. Puxado por preços competitivos do milho, redução dos custos de produção associados a essa tecnologia e a produção em expansão no Brasil, o etanol de milho pode vir a ser uma realidade não tão distante no país. Diversos fatores de competitividade consolidaram a produção do etanol de milho nos Estados Unidos e abrem espaço para que essa possibilidade possa ser considerada de forma mais efetiva no Brasil – afirma o diretor de Inteligência de Mercado da INTL FCStone no Brasil, Thadeu Silva, um dos autores do estudo.

Ao longo da última década, os EUA foram capazes de multiplicar sua produção de etanol. Baseando-se no milho e utilizando uma política clara de incentivo aos combustíveis renováveis, em pouco tempo o país ultrapassou o Brasil no volume de produção – Brasil e EUA são hoje os maiores produtores de etanol, com um market share conjunto em torno de 75% do mercado mundial.

Antes questionado por sua baixa eficiência energética e competição com alimentos, o etanol de milho vem ganhando cada vez mais espaço com o aumento da eficiência na conversão e aumento da produção de grãos. Os principais fatores que dão essa competitividade ao etanol de milho nos EUA são a disponibilidade de energia cada vez mais barata proveniente do gás natural de xisto e a valorização do etanol combustível. Outros fatores com relevante importância são os preços dos subprodutos, como o Dried Distillers Grains (DDG), custos de capital, incentivo governamental e perfil de endividamento dos produtores. Nos EUA, a escala mínima de produção associada a um resultado positivo do negócio gira em torno de 40 milhões de galões por ano ou mais, o equivalente a aproximadamente 150 milhões de litros por ano ou mais. 

No Brasil, o setor sucroalcooleiro é um dos mais importantes do país, possuindo extensa área cultivada de cana e alta produtividade agrícola e industrial, principalmente no Centro-Sul. Todavia, o etanol ainda não foi capaz de se tornar uma alternativa viável em todo o território nacional.

Altos custos de logística e estagnação no crescimento da produção impedem que o biocombustível seja competitivo em regiões distantes do centro produtivo. Por outro lado, a produção brasileira de milho tem apresentado elevada taxa de crescimento.

Nos últimos 37 anos, a produção nacional de milho passou de 19 milhões de toneladas, em 1976, para 79 milhões de toneladas na safra que se encerra em 2013.  Ao longo dos últimos 10 anos, porém, a intensidade desse crescimento se tornou mais forte, em função da maior produção do milho na safra de inverno (conhecida como safrinha). Com isso, a produção dobrou de tamanho desde 2004 e o volume produzido na “safrinha” ultrapassou o da safra principal (a “safrinha” virou “safrona”).

– Apesar desse forte crescimento nos últimos anos, ainda há muito espaço para o aumento da produção de milho no Brasil, principalmente por que ele pode ser cultivado com outras culturas no mesmo ano-safra. Considerando, por exemplo, que as áreas utilizadas no plantio de soja, algodão e milho na safra de verão possam servir para o plantio do milho na safrinha (atualmente apenas parte dessa área é utilizada), 73 milhões de toneladas adicionais de milho poderiam ser produzidas, levando a produção brasileira total a 152 milhões de toneladas anuais. Isso sem considerar aumentos de produtividade – aponta o consultor da FCStone.

Segundo o estudo, os principais entraves ao aumento da produção de milho no Brasil vêm da falta de demanda e dos sérios problemas logísticos para o escoamento e exportação do cereal.

– Dessa forma, a produção de etanol de milho poderia incentivar o crescimento do cultivo de milho em áreas hoje subutilizadas na safra de inverno – ressalta Silva.

– Mesmo uma fonte importante de demanda de milho, que é a produção de ração animal, não vem acompanhando o ritmo de crescimento da oferta do cereal. De 2008 a 2013, enquanto a produção de milho aumentou 38,7%, o consumo de milho para ração cresceu 15,9% – complementa o analista Pedro Verges, que também participa do estudo.

Usinas ‘flex’

O Brasil possui, desde a década de 1980 com o desenvolvimento do Proálcool, uma completa infraestrutura de distribuição e venda do biocombustível em todo território. Esse fato, associado ao potencial de consumo de biocombustíveis dado pela introdução em ampla escala da tecnologia flex-fuel na frota automotiva brasileira, facilitaria o escoamento de qualquer adicional na produção de etanol. Além disso, a crescente pressão para o reajuste do preço da gasolina no Brasil, nivelando-o aos preços internacionais, torna cada vez mais atrativo o mercado de etanol combustível, informou a INTL FCStone.

Um fato interessante é que as usinas também podem ser flex, já que para a produção do etanol de milho é possível agregar algumas etapas industriais em uma usina já instalada.

– Algumas usinas denominadas flex começam a explorar o milho para a produção de etanol juntamente com a cana, com destaque para os períodos de entressafra desta última, em que a manutenção da planta operando com o milho contribui para diminuir os custos fixos – aponta Verges.

Outro aspecto a ser considerado, segundo o estudo da INTL FCStone, é que a cana é um produto altamente perecível, muito difícil de estocar e que deve seguir para a moagem logo após ser colhida. Por outro lado, o milho pode ser armazenado por tempo praticamente indeterminado, especialmente com um bom controle de umidade no silo. Além disso, a usina não precisa ter produção própria de milho, como ocorre com a cana.

– O etanol de milho não deve ser visto não como um concorrente ao etanol da cana, mas como uma nova forma de dinamizar a produção para comercializar regionalmente, evitando os altos custos de transporte para escoar a produção – ressalta Silva.
 
Estados competitivos

O estudo elaborado pela FCStone estimou a rentabilidade de uma planta produtora com capacidade de processamento 580 mil toneladas de milho por ano, o que demanda um investimento estimado na ordem de R$ 241 milhões, incluindo-se os custos com obra civil, armazenagem, máquinas e equipamentos e preparação do terreno.

Alguns fatores de eficiência também foram considerados. Para cada tonelada de milho seriam produzidos 375 litros de etanol, 240 toneladas de DDG (que pode ser usado para consumo forrageiro na alimentação animal) e 18 litros de óleo. Com esses fatores, a unidade produziria, por ano, cerca de 217.500 m³ de etanol, 140 mil toneladas de DDG e 10 mil toneladas de óleo.

Considerando várias premissas que estão detalhadas no estudo, como uso da capacidade instalada, preço do etanol em cada localidade, preço do milho, sistemas tributários dos Estados, custos de energia térmica, elétrica e de mão de obra, entre outros, a análise da FCStone aponta um resultado positivo para o investimento em uma planta industrial para conversão de milho em etanol. O Retorno sobre o Investimento (ROI) em uma planta no Mato Grosso seria de 23%; no Mato Grosso do Sul, 26,1%; em Minas Gerais, 18,8%; e em Goiás, 5,4%.

– A rentabilidade atrativa nos Estados de MT e MS é impulsionada pela ampla oferta de milho, aumentada nos últimos anos, o que serve para pressionar o preço do cereal nas praças em questão – explica Silva.

Segundo ele, os dois fatores com maior impacto sobre a rentabilidade do negócio são o preço do milho e o custo da energia. Portanto, pequenas mudanças nesses fatores já têm impactos significativos sobre o resultado financeiro do empreendimento e podem ser considerados fatores de risco do projeto.

O estudo da INTL FCStone conclui que, apesar de ainda engatinhar, a produção de etanol de milho no Brasil tem um potencial enorme de crescer, pois conta com vantagens importantes, como a facilidade de estocagem do grão e a penetração em mercados não alcançados pelo biocombustível da cana.

– Essa alternativa se torna ainda mais factível, pois, nos próximos anos, o cultivo do milho no Brasil deve continuar avançando, a despeito dos produtores estarem desanimados com o contexto atual de preços baixos do grão. Além da absorção de parte do milho produzido, o etanol do cereal contribuiria para desconcentrar a indústria do biocombustível no país, tornando-o inclusive mais competitivo em todo o território nacional – afirma Verges.

– Dessa forma, mantendo-se o atual cenário, o investimento na construção de uma planta de etanol de milho no Brasil tem retorno positivo e pode ser considerado um empreendimento viável – conclui Silva.