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Sustentabilidade

Especialistas avaliam célula de etanol como opção mais sustentável para veículos elétricos no Brasil

Tecnologia está em desenvolvimento por montadora japonesa em parceria com universidades brasileiras. Modelo em teste desenvolve em média 20 km por litro de etanol e reduz a emissão de gases de efeito estufa em 90%. Tema será debatido na Biofuture Summit e BBEST - Brazilian Bionergy Science and Technology Conference

Especialistas avaliam célula de etanol como opção mais sustentável para veículos elétricos no Brasil

O automóvel elétrico tipo plug in, movido a baterias recarregáveis, um dos padrões que vem sendo adotado pela indústria automobilística americana e europeia, não é considerado a melhor alternativa para os países em desenvolvimento, em especial para os que são produtores de etanol. Especialistas consideram que, entre as atuais tecnologias em desenvolvimento, outras atendem melhor a especificidade de países como o Brasil, a exemplo do modelo de propulsor elétrico movido a hidrogênio gerado a partir de célula de etanol.

Para o especialista em estudos energéticos do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE) da Unicamp, Luiz Augusto Horta Nogueira, o veículo elétrico a hidrogênio gerado a partir de célula de etanol apresenta uma série de vantagens para o Brasil e outros países produtores de etanol quando comparado ao modelo elétrico à bateria.

 “Temos aspectos técnicos e estratégicos envolvidos nessa questão”, pondera. Segundo Nogueira, as questões técnicas dizem respeito à maior autonomia, uma vez que o abastecimento do veículo com célula de etanol será de forma idêntica aos veículos movidos à combustão, ou seja, parar no posto, encher o tanque de etanol e seguir adiante, sem ter de perder tempo recarregando as baterias. “Quando há previsibilidade de trajeto diário, o veículo elétrico tipo plug in pode até ser uma opção. Mas quando pensamos em grandes distâncias ou imprevistos, o abastecimento elétrico pode se tornar um problema”.

 “Quanto à estratégia, o Brasil é líder em tecnologia na produção de etanol a partir da cana. Vamos virar as costas a todo investimento, toda expertise e toda tecnologia desenvolvida nos últimos quarenta anos?”, indaga. “Seria uma insensatez fazer isso e ainda precisamos de considerar todo o investimento que teremos de fazer na infraestrutura da rede elétrica”, considera. Estudos da Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério das Minas e Energia, apontam que a estruturação da rede elétrica para abastecimento automotivo custaria ao país algo em torno de R$ 1,2 trilhão, cerca de 16% do PIB de 2020.

Para Nogueira, o Brasil deveria optar por outras opções de mobilidade que não o veículo elétrico à bateria. “Veículos híbridos, com motor elétrico e à combustão trabalhando conjuntamente, podem ser uma boa opção, mas o veículo elétrico utilizando a eletricidade gerada em uma célula de combustível a hidrogênio, produzido no próprio veículo a partir de etanol, é mais eficiente”, aponta.

Um caminho possível

Nenhuma tecnologia de mobilidade deve ser descartada, todas podem conviver e ser utilizadas de acordo com necessidades específicas de cada local e de cada país. Esse é o ponto de vista defendido por Ricardo Simões de Abreu, engenheiro, consultor da Bright Consulting e especialista em bioenergia.

 “Quando avaliamos as tecnologias em termos de emissões de CO2, tanto veículos híbridos movidos à etanol, quanto veículos elétricos à bateria, ou mesmo motores elétricos movidos à hidrogênio têm um índice de emissões bem inferior aos movidos à gasolina. Se a questão for reduzir emissões para respeitar acordos climáticos, todas essas tecnologias contribuem para atender a essa demanda”, explica.

Porém, segundo o consultor, a opção pela tecnologia de mobilidade depende do tipo de uso ou da estrutura instalada. “Veículo elétrico à bateria pode ser uma boa opção urbana, em especial para transporte público. No caso de outros usos, a geração interna de eletricidade a partir do hidrogênio, com abastecimento em postos de combustíveis, pode se configurar uma opção mais adequada”, argumenta. Segundo ele, no caso do Brasil, que tem o setor de etanol bem desenvolvido, os híbridos a etanol ou a célula de etanol são opções muito interessantes, sendo que a célula de etanol tem maior eficiência. Ele frisa que a rede de distribuição já está pronta, o País tem grandes pesquisadores na área e, em havendo investimento, o resultado será uma tecnologia mais adequada à realidade nacional.

Tecnologia promissora

A célula de etanol para mobilidade já está em desenvolvimento no Brasil. USP e a Unicamp estão participando do desenvolvimento dessa tecnologia em parceria com uma montadora japonesa, além de outras iniciativas. O modelo em desenvolvimento retira o hidrogênio do etanol e depois o utiliza para gerar energia elétrica, que aciona o motor elétrico e impulsiona o veículo. Toda a tecnologia necessária para a mobilidade vai embarcada. O abastecimento é feito com etanol nos postos de combustíveis. Para os especialistas, o etanol é uma excelente opção porque é obtido a partir de fontes renováveis e sua molécula possui muito hidrogênio. “Etanol é praticamente um cacho de hidrogênio”, brinca Abreu.

Para Nogueira, do NIPE, os primeiros resultados do uso das células de etanol em carros elétricos são muito promissores. “O rendimento é muito superior ao dos carros a combustão movidos a álcool ou mesmo híbridos, sendo que os testes iniciais indicam que o veículo pode fazer, em média, 20 km por litro de etanol. Além disso, a emissão de gases de efeito estufa é 90% menor por quilômetro rodado quando comparado aos veículos movidos à gasolina”, diz.

 

Passivo ambiental

A tecnologia de carros elétricos movidos à bateria pode parecer limpa, mas não é bem assim. Há dois importantes aspectos que devem ser considerados, alertam os especialistas: a origem da energia elétrica utilizada na recarga e o descarte das baterias velhas. “Do ponto de vista ambiental, não adianta muito ter um veículo elétrico abastecido com energia gerada a partir de carvão, diesel ou outro combustível fóssil. Há um ganho de eficiência, mas na prática estamos apenas mudando o local da fonte poluidora”, explica Nogueira. Ele lembra ainda que os metais hoje utilizados para a produção de baterias geram um importante passivo ambiental de reciclagem.