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Energia e água, mais desafios para a indústria - Por Ricardo Martins

Empresário tem mais desafios além da alta carga tributária, falta de infraestrutura, emperramento da máquina burocrática.

Energia e água, mais desafios para a indústria - Por Ricardo Martins

No Brasil, o empresário enfrenta cotidianamente muitos desafios: alta carga tributária, falta de infraestrutura, emperramento da máquina burocrática. Agora, com o período de estiagem que assola o Sudeste, a indústria, bem como os brasileiros, tem mais uma barreira a enfrentar: a falta de água e de energia elétrica.
 
Rico por suas bacias hidrográficas, o Brasil é codependente de água e energia. Uma depende da outra. Nossa geração de eletricidade provém basicamente das hidrelétricas instaladas, responsáveis por 75% de nossa capacidade energética, por isso a escassez de água está diretamente ligada à falta de energia elétrica no País.
 
O apagão de janeiro, que deixou 12 unidades da Federação sem luz por uma hora, foi o primeiro do ano, mas a precariedade da infraestrutura energética no Brasil indica que não deverá ser o último. Sem planejamento técnico ou aviso prévio por parte das autoridades, o empresário terá de se prevenir para não arcar com o prejuízo.
 
A falta de chuvas compromete não somente a geração de energia, mas principalmente, o abastecimento de água. Com uma dupla crise desse tamanho, a tendência é culpar as variações climáticas “imprevisíveis”, como dizem os políticos, mas não é só isso. Não é preciso ser especialista para saber que a natureza é cíclica. Prevenção e planejamento de longo prazo ajudariam bastante neste momento.
 
Há pelo menos dez anos, analistas já sabiam que as mudanças climáticas gerariam períodos de crise de abastecimento no Brasil. Mesmo assim, obras para a geração e distribuição de energia estão atrasadas ou paralisadas, reservatórios de água estão em baixa ou com mais de 30% de desperdício nas tubulações. Tudo por falta de investimentos adequados ou direcionamento incorreto de nossos governantes.
 
O Sistema Cantareira, que abastece o Estado de São Paulo já chegou perto de 5% de sua capacidade no início do ano e o racionamento de água já foi anunciado para o mês de abril. No Interior, a Agência Nacional das Águas (ANA) determinou que as indústrias da região de Campinas reduzam em 30% a captação direta de água dos rios para não comprometer o reservatório.
 
Pesquisa recente do Depecon – Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos indica que 54,5% do setor industrial não têm fontes alternativas de abastecimento ou captação de água, nem políticas de reúso.
 
Se o governo adotar medidas de reestruturação do abastecimento, provavelmente, o nível dos reservatórios só voltará ao normal em dois anos. Mas se as chuvas continuarem abaixo da média, a crise poderá se agravar.
 
Em São Paulo, estado que gera um terço do PIB nacional, o que fazer com a produção? O importante neste momento é ficar atento e buscar alternativas para enfrentar a situação. Algumas empresas cogitam entrar em férias coletivas e reduzir os turnos de trabalho por causa da falta de água, outras propõem o êxodo para outras regiões menos problemáticas. As mais precavidas procuram adotar medidas de contingência, como o aumento da reserva, busca de água subterrânea, melhoria de práticas de conservação e utilização de água de reúso e diminuição do consumo.
 
O CIESP e a Fiesp têm representado o setor industrial em todas as reuniões com autoridades para decidir estratégias e ações a respeito da crise hídrica. Também está presente para orientação dos usuários industriais sobre o que fazer para enfrentar a crise. No site: www.fiesp.com.br/agua está disponível para download a cartilha “Gerenciando a Escassez de Água na Indústria”.
 
Por outro lado, pode parecer inacreditável, mas o aumento de 40% no custo das tarifas de energia não é a principal fonte de preocupação dos empresários no Brasil. Com a crise hídrica o desafio maior está relacionado aos apagões. A falta de previsibilidade coloca em risco todo setor produtivo e pode colocar o País em recessão. Economistas avaliam que o PIB poderá encolher 1,5% neste ano, se houver racionamento energético.
 
A alta demanda no verão faz com que o consumo se torne maior que a geração de eletricidade, como o Brasil não dispõe de reservas de emergência, com a escassez hidrelétrica, as termelétricas, movidas a gás, diesel e carvão, já operam no máximo de sua capacidade e tornam o custo ainda mais caro. Resultado: a ingerência estatal provocou falta de investimentos no setor e resultou no atraso de obras em curso, o que coloca o País mais perto de um novo apagão.
 
Para reduzir a imprevisibilidade, CIESP e Fiesp cobram do governo maior transparência sobre o racionamento. Para as empresas é melhor que sejam avisadas dos cortes com antecedência, para que possam planejar a interrupção da produção ou sua manutenção com geradores.
 
Lembramos que, em 2001, o racionamento energético imposto provocou perdas de quase R$ 6 bilhões para a economia brasileira.
 

Ricardo Martins é diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP – Distrital Leste) (www.ciespleste.com.br) e diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP. Também é vice-presidente do SICETEL – Sindicato Nacional das Indústrias de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos. E-mail: [email protected].