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Meio ambiente

Desmatamento na Amazônia soma duas Alemanhas

Evento realizado em São Paulo apresenta dados atuais sobre a situação do bioma e mostra como se pode cessar a remoção de florestas

Desmatamento na Amazônia soma duas Alemanhas

Oito organizações ambientalistas – Greenpeace Brasil, ICV, Imaflora, Imazon, IPAM, Instituto Socioambiental, WWF-Brasil e TNC Brasil – apresentam pela primeira vez no Brasil o relatório “Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá”. O seminário tem como objetivo debater as propostas apresentadas pelo grupo no documento para frear o desmatamento, que atualmente causa perdas para o Brasil – cessar a remoção de florestas na região e mudar a forma como o solo é usado, por sua vez, só trarão vantagens ao país.

A área de floresta perdida na Amazônia já equivale a duas vezes o território da Alemanha. Sem controle, a taxa de desmatamento poderá atingir patamares anuais entre 9.391 km2 e 13.789 km2 até 2027.

A taxa média de desmatamento entre 2013 e 2017 foi 38% maior do que em 2012, ano com a menor taxa registrada, a situação pode piorar devido à impunidade a crimes ambientais, retrocessos em políticas ambientais, falhas nos acordos da pecuária, estímulo à grilagem de terras públicas e retomada de grandes obras.

A pegada da pecuária, um dos principais vetores do desmatamento, é pesada: do total desmatado, 65% são usados para pastagens de baixa eficiência, com menos de um boi por hectare. O argumento de que é preciso derrubar floresta para crescer economicamente não se sustenta: o desmatamento registrado entre 2007 e 2016 (7.502 km2 por ano, em média) teve potencial de adicionar anualmente apenas 0,013% do PIB brasileiro. Além disso, compromissos corporativos ainda falham na sua implementação e não monitoram a cadeia por completo.

A meta do Brasil, assumida internacionalmente, de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia apenas em 2030 é insuficiente. Em 2016, as mudanças no uso da terra representaram 51% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil e mantiveram o país como o sétimo maior emissor do mundo.

Combater o desmatamento demanda compromissos dos setores público, privado e a sociedade. Uma das ações mais urgentes é estancar a grilagem de terras públicas. Há 70 milhões de hectares que precisam ser destinados para uso coordenado, seja para preservação, atividades extrativistas, entre outros – em 2017, 28% do desmatamento aconteceu nessas áreas, e de forma ilegal.

O fim do desmatamento na Amazônia coloca o Brasil na frente de uma tendência mundial: a produção de commodities com zero conversão florestal: além de abrir mercados, é um estímulo ao desenvolvimento de outras alternativas econômicas em harmonia com a floresta e seus povos. O Brasil dessa maneira protege a própria produção agropecuária, já que, sem florestas, a chuva diminui e o clima esquenta.

O evento traz a participação de Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS); os pesquisadores Eduardo Assad, da Embrapa, e Paulo Artaxo, da USP; e Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil.

Os palestrantes discutem caminhos e ações para que o governo, as empresas e a sociedade civil atuem em conjunto para a superação do desmatamento em quatro eixos: a implementação de políticas públicas ambientais efetivas e perenes, o apoio a usos sustentáveis da floresta e melhores práticas agropecuárias, a restrição do mercado para produtos associados a novos desmatamentos e o engajamento de eleitores, consumidores e investidores nos esforços de zerar o desmatamento.

Sobre os palestrantes:

Ana Toni:

Diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e sócia-fundadora do GIP (Gestão de Interesse Público). Economista e doutora em Ciência Política, Ana possui longa trajetória no trabalho e apoio a projetos voltados à justiça social, à promoção de políticas públicas, à área do meio ambiente e mudanças climáticas e à filantropia. Ana foi presidente de Conselho do Greenpeace Internacional (2010 e 2017), diretora da Fundação Ford no Brasil (2003-2011) e da ActionAid Brasil (1998-2002). Atualmente é integrante da Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade e dos conselhos da Agência Pública, da Gold Standard Foundation, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) e do Fundo Baobá por Igualdade Racial.

Eduardo Assad:

Pesquisador, coordenador técnico nacional do Inventário Nacional de Gases de efeito Estufa, coordenador do projeto especial “Riscos na agricultura” da Embrapa, membro do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (IPCC), coordenador do subprojeto Clima e Agricultura do INCT Mudanças Climáticas, professor do mestrado em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GVAgro).

Paulo Artaxo:

Professor titular do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

Paulo Pianez:

Diretor de Sustentabilidade do Carrefour Brasil, é economista pela Unicamp e pós-graduado em Estatística pela mesma instituição. Atua há dez anos em sustentabilidade, em especial nos desafios de conciliar produção/operação do setor privado com conservação e diminuição dos impactos ambientais.