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Competência de um Líder - por Valter Bampi

O líder que não tem seguidores é só um sujeito dando um passeio.

Competência de um Líder - por Valter Bampi

“Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento”, um dos trunfos do filme Lincoln, de Steven Spielberg, que mostra o ex-presidente norte americano que conseguiu abolição da escravatura, fim da Guerra de Secessão nos EUA, é mostrar um líder humano, com erros, acertos, dúvidas e certezas. Qualquer semelhança com mundo corporativo não é mera coincidência, coaches que analisaram o filme extraíram dele erros e acertos de Abraham Lincoln, cujas frases são reproduzidas com frequência:

1. Nunca minta a sua equipe: um dos erros mortais de Lincoln no filme é que ele omite do secretário de Estado um acordo que havia feito com o líder dos republicanos para aprovar a abolição da escravatura, colocando em risco a confiança do principal funcionário. Deveria ter compartilhado, explicado o porquê da decisão. No mundo corporativo é tão difícil estabelecer alianças sólidas, que o melhor é sempre preservá-las, explico o perigo da quebra da confiança: líder se fundamenta no processo da consolidação da confiança, se ele chamasse o secretário, apresentasse a decisão como uma estratégia, seria melhor. Lide com casos parecidos, combinando o jogo. Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder;

2. Respeite regras: no filme, Lincoln resiste dar dinheiro aos congressistas do partido Democrata, mas aceita dar empregos para que votem a favor da emenda abolicionista. Um presidente pode até sobreviver a um escândalo como esses, mas essa atitude pode significar morte de uma empresa;

3. Cuidado para não virar ditador: símbolo da recém-conquistada democracia nos EUA, Lincoln chega a ser apontado como um ditador por insistir na luta pela abolição, enquanto adia o fim da guerra, o que implica um número maior de morte de civis, comparando Lincoln com o personagem do Mito da Caverna, de Platão: na parábola, homens moram em uma caverna e só conhecem o mundo por sombras. Um dos acorrentados foge, vê as coisas como elas são e volta para contar, mas acaba morto por seus companheiros. Todo indivíduo que se sobressai na sociedade tem de fazer uma escolha, geralmente ele escolhe algo que ninguém vê, daí tem que dizer a que veio e o líder não pode ficar em cima do muro. Tem que escolher um lado e pular;

4. Tenha visão. Comprometa-se: em uma coisa especialistas são unânimes. Lincoln é considerado um líder visionário, comprometido. Tinha a capacidade de criar visão inspiradora, explicar decisões com base racional, cobrindo tudo com um molho de humanidade. Um líder palpável, mais próximo ao interlocutor, Lincoln era capaz de estar comprometido com as questões de seu tempo, sabia cultivar sua rede de relacionamento e tinha bom humor. Nas organizações, esses são os líderes mais valiosos.

5. Delegue: ele deixa espaço para sua equipe ir a campo, mostra confiança, oferece segurança, monitora, intercede se necessário. O acordo com os democratas é todo feito pelo secretário de Estado e sua equipe;

6. Oriente sempre: além de delegar, o ex-presidente se reúnia com os liderados para averiguar resultados alcançados, mostrar o caminho para atingir a meta. Podes enganar toda a gente durante um certo tempo, até mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo, mas não vos será possível enganar sempre toda a gente;

7. Compartilhe poder: Lincoln incentivava equipe a assumir responsabilidades, gerando maturidade profissional. Isso dá segurança e capacidade de resolução de problemas, mesmo diante de situações críticas.

8. Recheie seu discurso com empatia: grande parte do poder de oratória de Lincoln estava no fato de conseguir mapear o interlocutor e, por meio de suas histórias, criar um link emocional (ou racional) com ele. Bom exemplo é a cena em que Lincoln conversa com um operador de telégrafo. Ele pergunta sua profissão e ao saber que o personagem havia se formado em engenharia, cita uma teoria de Euclides para falar sobre igualdade;

9. Foque na solução: todas probabilidades estavam contra Lincoln, o ex-presidente não tinha apoio do Congresso para a aprovação da emenda abolicionista, guerra (seu maior argumento para acabar com a escravidão) estava para acabar e maioria da população norte americana não queria o fim da escravatura. Em vez de se sentir paralisado pelas dificuldades, o ex-presidente gastava sua energia encontrando soluções para cada uma dessas questões.

10. Cuide do seu equilíbrio emocional: apesar se ser um líder querido, Lincoln foi questionado por muitos de seus liderados. A primeira reação de qualquer ser humano frente a uma crítica é sentir raiva. Quando você tem uma visão muito firme, o primeiro impulso é querer impor. Como assim vocês não estão enxergando? ‘Ele percebe que se não entrasse no mundo das pessoas, se não entendesse como elas pensavam, não conseguiria adesão. As pessoas pecam na falta desse equilíbrio emocional.

11. Vença sua batalha interna: administrar republicanos ,conquistar voto dos democratas, convencer liderados sobre seus ideais e lidar com os dramas familiares, definitivamente não é para os fracos. Todo líder passa por esse dilema. Bons líderes conseguem gerenciar essas questões ao mesmo tempo, sem cair na insegurança, o que acaba levando a decisões equivocadas. Frequentemente é necessário mais coragem para ousar fazer certo do que temer fazer errado.

12. Tenha coragem de mudar de ideia: em uma cena Lincoln mostra seu único momento de hesitação. Ele está prestes a ceder, terminar a guerra, mesmo sem a aprovação da emenda abolicionista. Chega a ditar a mensagem ao operador de telégrafo, mas muda de ideia. O ser humano que não tem dúvidas está se enganando. Não justifico o líder que senta em cima das decisões e nunca define nada. Mas aquela coisa rígida de “eu tenho sempre razão” é ruim e não é crível, Por mais que o líder acredite em algo, é só um lado da verdade.

13. Não seja ingênuo: mesmo o mais querido líder das corporações nunca será uma unanimidade, mas no fim do dia ele precisa ter mais seguidores que inimigos. Para tanto, use e abuse da diplomacia. Há sempre o risco da demissão ou de ser colocado de lado. É um jogo, no qual é preciso medir consequências. Inimigos que não vão gostar do resultado são maiores ou menores que os beneficiados? Todos nós temos pessoas que jogam contra e pessoas que nos seguem. É preciso conviver com isso com sabedoria. Ter mais seguidores que inimigos é fundamental para a sobrevivência do executivo. “O líder que não tem seguidores é só um sujeito dando um passeio.”