Com aumento drástico nos preços, empresas japonesas criam método para extrair fósforo a partir de dejetos humanos e suínos
O preço do fosfato de diamônio, um composto comumente usado em fertilizantes, aumentou cerca de 60% desde o início de 2021
Os riscos da cadeia de suprimentos estão levando as empresas a lançar um novo olhar sobre materiais que historicamente eram descartados. Uma dessas tendências está surgindo no mundo do fósforo, que junto com o nitrogênio e o potássio é um componente crítico dos fertilizantes.
Os fabricantes japoneses Hitachi Zosen e Kubota estão lançando métodos de extração de fósforo a partir de dejetos de suínos e humanos.
O preço do fosfato de diamônio, um composto comumente usado em fertilizantes, aumentou cerca de 60% desde o início de 2021, para US$ 673 a tonelada, em outubro, de acordo com o Banco Mundial. “Os preços têm tendência de alta e o material agora está saindo por cerca do dobro do que custava no início do ano”, segundo um atacadista.
Cerca de 70% da rocha fosfática mundial, da qual o elemento é extraído, sai de China, Marrocos e Estados Unidos.
O aumento nos preços decorre principalmente das restrições às exportações na China. Os custos de transporte crescentes devido ao salto nos preços do petróleo bruto também contribuíram.
O elemento também tem um impacto significativo na indústria de semicondutores. A China reduziu a produção de fósforo amarelo, uma forma do elemento usado na fabricação de chips, em meio a uma crise de energia em setembro. Isso, por sua vez, desencadeou uma escassez global, e o preço do fósforo amarelo aumentou 3,7 vezes desde o início do ano, para 60 mil yuans (US$ 9.420) por tonelada.
A Hitachi Zosen vai abrir fábricas na China que vão colher, cada uma, 1.800 toneladas de fósforo dos excrementos de suínos por ano. O lançamento do negócio está previsto para 2025.
A empresa de engenharia fornecerá a tecnologia para empreiteiros chineses que constroem fábricas e cobram taxas de licenciamento. Os operadores de processamento de resíduos irão operar as fábricas e vender o fósforo aos agricultores como fertilizante. A Hitachi Zosen garantirá a qualidade por meio de inspeções pontuais de amostras.
O fósforo é geralmente derivado de minérios que usam ácido e outros produtos químicos. O método da Hitachi Zosen de usar dejetos de suínos como fonte é menos caro.
Os excrementos são primeiro aquecidos, depois o carvão contendo fósforo e o gás são separados. O restante do produto é mais uma vez aquecido a baixas temperaturas em ambiente anaeróbio. O fósforo recuperado desta maneira é mais fácil de ser absorvido pela vegetação.
A Hitachi Zosen construirá uma fábrica piloto na província de Liaoning em maio próximo, que será capaz de produzir algumas centenas de toneladas de fósforo por ano. O plano é ter 50 dessas unidades funcionando até o ano fiscal encerrado em março de 2029, com taxas de licenciamento totalizando 2 bilhões de ienes (US$ 17,6 milhões) por ano.
A Kubota vai lançar seu próprio negócio de extração de fósforo de excrementos humanos, que será em forma de pó. O excremento dessecado será aquecido a 1.300 graus Celsius, separando a matéria orgânica das substâncias tóxicas.
Fabricante de equipamentos agrícolas, a Kubota começará no próximo ano com uma instalação no Japão que recuperará a substância de mais de 1 mil toneladas de dejetos por ano.
O local permanece em sigilo e a Kubota planeja vender o fósforo como fertilizante para as autoridades governamentais locais. O mercado de coleta de fósforo pode se expandir substancialmente à medida que a demanda por alimentos cresce junto com a população global.
A Alemanha e a Suíça veem riscos significativos na cadeia de suprimentos associados ao fósforo e exigirão que todas as estações de tratamento de esgoto dentro de suas fronteiras comecem a coletar fósforo na próxima década.
Os países europeus já estão promovendo iniciativas público-privadas para recuperar fósforo de dejetos humanos, com a empresa francesa de tratamento de água Veolia e outras construindo uma instalação capaz de coletar centenas de toneladas do elemento por ano. A Ostara Nutrient Recovery Technologies, uma startup com escritórios no Canadá, Estados Unidos e Europa, também está construindo fábricas capazes de coletar milhares de toneladas de fósforo por ano nos Estados Unidos e em Israel.
O fósforo recuperado de dejetos humanos deve ser de 20% a 30% mais barato do que o fósforo processado de minérios importados para o Japão, graças às diferentes matérias-primas e à economia com custos de transporte.
No entanto, o Japão precisa encorajar a recuperação de fósforo. Há apenas um pequeno número de instalações capazes de reciclar águas residuais. Como resultado, cerca de 90% do fosfato de amônio usado em fertilizantes vêm da China.
"O Japão tem pouca sensação de perigo quando se trata de fornecimento de fósforo", disse Hisao Otake, presidente da Organização para o Desenvolvimento da Indústria de Fósforo. "O governo precisa apoiar a recuperação do fósforo e desenvolver uma estrutura doméstica para usá-lo."
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