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Economia

Câmbio favorece exportações agrícolas brasileiras, analisa Delfim Netto

A valorização do dólar frente ao real continua favorecendo as exportações de produtos agrícolas no Brasil.

Câmbio favorece exportações agrícolas brasileiras, analisa Delfim Netto

A valorização do dólar frente ao real continua favorecendo as exportações de produtos agrícolas no Brasil, caso contrário o setor estaria em maus lençóis. “Se não fosse este câmbio, a nossa agricultura estaria hoje em uma situação devastadora. A nossa produção de soja, por exemplo, não seria exportável”, avalia o professor e ex-ministro Delfim Netto.

Ele ressalta que “na verdade, a queda de preço externo está sendo compensada pela desvalorização do câmbio, que segue para seu ponto de equilíbrio”. “Você perde 10% de preço em dólares e ganha 15% de câmbio”, informa Delfim, que também é membro da Academia Nacional da Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

De acordo com o ex-ministro, “se não fosse o agronegócio, nós já tínhamos quebrado há muito tempo”. Isto porque, em sua opinião, este segmento da economia vem permitindo, por anos consecutivos, alguns ganhos fundamentais.

“De onde veio a melhoria nas relações de troca do Brasil, do aumento dos preços agrícolas externos? Isto melhorou a distribuição de renda, calibrou e deu enorme prestígio ao governo. É preciso reconhecer que todos os governos fizeram o seu papel”, afirma.

Ele ainda destaca que “a agricultura não está aí por acaso”. Ela “é o resultado de uma intervenção inteligente do governo, que vem se processando nos últimos 45, 50 anos”. Um modelo de sucesso tem sido o trabalho executado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que “é simplesmente o sinal mais visível disso, mas o governo também estimulou o aumento de produtividade”.

SUCESSO DA EMBRAPA

O professor destaca ainda que a Empresa de Pesquisa vem de “uma ideia que foi maturada por brasileiros brilhantes no começo dos anos 70”. “É uma demonstração clara de que, quando há disposição do governo, as coisas funcionam. Quando se criou a Embrapa construiu-se uma massa crítica com profissionais enviados ao exterior e depois reagrupados no Brasil.”

Prova disto, segundo ele, é a transformação do maior passivo brasileiro – o Cerrado -, que foi transformado no seu maior ativo. “Estas coisas mostram que este é um país que, quando foca direito, faz as coisas corretas.”.

Outro exemplo responsável pelo desenvolvimento do agronegócio brasileiro, em sua opinião, é o da soja, considerada por ele produto da ação do governo, da ação de um homem, Nestor Jost, então presidente do Banco do Brasil nos anos 60.

Delfim conta que Jost o chamou e disse: “‘Temos um negócio de futuro no Rio Grande do Sul – a soja -, com uma safra de 300 mil toneladas’”. “Ele convenceu a todos nós que aquilo era uma coisa de um futuro enorme e empenhamos o melhor instrumento de política econômica existente no País: o Banco do Brasil, uma instituição correta e eficiente. Em um espaço entre cinco e seis anos, a produção subiu para 6 milhões de toneladas. Isto mostra, no fundo, a capacidade de um país quando ele se mobiliza para um negócio correto.”

SUPORTE

Segundo o ex-ministro, o suporte do Estado para a pesquisa é fundamental para o setor agropecuário, “porque é a pesquisa que vai nos permitir antecipar as consequências inevitáveis do crescimento do planeta”. “O homem espera que possa controlá-lo, mas mesmo que consiga a Terra não vai ser a mesma”, alerta.

Ele ainda chama a atenção para o fato de o Brasil ter uma vantagem: “Aqui não existem problemas geológicos, meteorológicos, mas provavelmente estes se intensificarão e teremos mudanças. A agricultura não vai ficar onde está, pois virá um novo mundo por meio da bioeconomia, da biodiversidade”.

O desenvolvimento econômico, explica Delfim, é um fato termodinâmico. “Até 1750, valia o regime malthusiano, em que a oferta de alimentos determinava e controlava o tamanho da população. Quando o homem se libertou disto, pelo conhecimento científico, houve uma expansão dramática do nível de renda, do nível de população e da produção de CO²”.

“Como disse, a agricultura não ficará onde está e, por isto, temos de antecipar este futuro. E quem pode fazer isto é a pesquisa, pois oferece as melhores taxas de retorno aos seus investimentos. A importância de uma empresa, como a Embrapa, é cada vez maior”, garante o ex-ministro.