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Brasil: Energia como um caminho para o desenvolvimento - por Paulo Cesar Esmeraldo

No imaginário coletivo, o Brasil sempre foi terra de grande potencial e possibilidades.

Brasil: Energia como um caminho para o desenvolvimento - por Paulo Cesar Esmeraldo

No imaginário coletivo, o Brasil sempre foi terra de grande potencial e possibilidades. Hoje essas características estão à mostra nas áreas econômica e industrial, tanto que o Brasil está acompanhando o ritmo dos países ocidentais e, segundo indicadores econômicos, até 2020 se tornará a quinta maior economia do mundo.

Entretanto, o sucesso do Brasil também está relacionado à abundância de matérias-primas, que podem ser usadas para produzir energia. Entre elas, está a água; mas existem também o petróleo e o gás natural. As expectativas de crescimento no Brasil estão relacionadas à exploração desses dois últimos recursos.

Ouro azul

Não se pode falar do Brasil e da energia hidrelétrica sem citar vários recordes mundiais. Os principais colocam o Brasil no topo da lista de países com as maiores reservas de água doce do mundo, sendo 12% do total do planeta. A energia hidrelétrica abastece cerca de 80% das necessidades energéticas do país. Em 2010, foram 455 TWh, e com um crescimento anual médio de 4,3%, a previsão para o final desta década é o consumo de 650 TWh. Um quinto do consumo atual é coberto por uma única barragem, Itaipu. A previsão é de aumento no crescimento, quando a capacidade instalada atual, 122 GW, será ampliada em mais 60 GW até 2020, chegando a 182 GW. O principal projeto em construção é o da usina de Belo Monte, no Pará, que a partir de 2015 produzirá 40 mil GWh, tornando-se a terceira maior barragem do mundo.

Graças à predominância da energia hidrelétrica, o Brasil tem a produção de eletricidade mais ecologicamente correta do mundo. Este é um ponto forte com riscos de se tornar um ponto fraco, devido à confiança em uma única fonte de energia. A dependência desta fonte pode ser prejudicial ao sistema de produção de energia, conforme visto no apagão de 2009, causado por problemas em Itaipu.

A diversificação, integrando as hidrelétricas a outras fontes de energia é essencial, caso o Brasil deseje manter sua liderança em fontes renováveis. É por isso que os planos de desenvolvimento do país pedem uma maior contribuição dos ventos e da biomassa com pequenas quantidades de energia vinda de emissões solares e do mar.

Embora essas duas últimas fontes sejam importantes, hoje já totalizam uma porção pequena, mas significativa, da produção de energia e podem crescer rapidamente. Existem 600 projetos de energia eólica planejados para um total de 16 mil MW. A biomassa – que tem como base o bagaço da cana de açúcar – deve alcançar 10 MW até o final da década. Até 2020, a contribuição de fontes de energia renováveis não-hídricas deve dobrar para 16% com capacidade de crescimento de 20 GW para 27 GW.

 Além de fontes renováveis, estão sendo planejados grandes investimentos na infraestrutura de redes para transmissão e distribuição de eletricidade a longas distâncias. Em 2012, o Brasil lançou o Programa de Investimento em Logística, que tem foco na integração e renovação de infraestrutura. A rede conta com 100 mil quilômetros de linhas de transmissão e, nos próximos dez anos, mais 46 mil serão construídos. Os principais troncos são o corredor norte-noroeste (3.500 MW) e o corredor norte-sudeste (4.000 MW). A meta é conectar os dois subsistemas de energia, facilitando trocas regionais. É através das redes de corrente contínua que a enorme produção de eletricidade da barragem de Belo Monte abastecerá a rede e será distribuída para as principais áreas de consumo.

Ouro negro

A crise do petróleo da década de 70 foi fundamental para impulsionar a produção de hidrocarbonetos. A busca por recursos internos se intensificou e levou à descoberta de grandes campos de petróleo na Bacia de Campos. Entretanto, foi a descoberta do campo de Tupi, na Bacia de Santos, em 2007, que agitou a indústria mundial de petróleo. Entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo estão localizadas ao largo da costa, a cerca de 7 mil metros de profundidade, sob uma grossa camada de sal. O tamanho do campo de Tupi levou a mais pesquisas – no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo – resultando na identificação de outros campos de petróleo de valor extraordinário. Financeiramente, ainda não compensa explorar esses depósitos, porém eles representam mais do que uma promessa.

A situação é a mesma para o gás natural, que será outra importante área de desenvolvimento e crescimento. O governo brasileiro estima que o país possui 423 trilhões de m³ de reservas, sendo mais de 80% delas localizadas offshore.

As estimativas oficiais preveem que a produção quadruplique nos próximos anos, aumentando de 23 bilhões de m³ em 2010 para 98 bilhões de m³ em 2015 e para 178 bilhões de m³ em 2020. Para alcançar este crescimento, deve haver um desenvolvimento da infraestrutura para transporte do gás natural. A rede de distribuição cresceu de 6 mil para 10 mil quilômetros e dois terminais de gás natural liquefeitos foram construídos, um na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro) e outro no porto de Pecém (Ceará).

A Petrobras prevê investimentos da ordem de US$ 174 bilhões até 2014. Isso a colocaria entre as cinco maiores empresas na indústria do petróleo mundial.

Biocombustíveis e etanol

A área de biocombustíveis é outra onde o Brasil tem sido dinâmico e criativo. O país lidera o caminho neste setor, graças a um modelo de desenvolvimento eficiente. Na década de 70, devido à crise de petróleo, o programa Pró-Álcool foi lançado para a produção de etanol a partir da cana de açúcar. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor mundial e o primeiro em exportação.

Cerca de metade da produção de cana de açúcar do país é destinada à fabricação de etanol e a tendência é que este número aumente. Até 2020, o número de carros registrados subirá de 29 para 56 milhões e a demanda por etanol e biocombustíveis aumentará de 27 para 73 milhões de litros. O Brasil parece ter descoberto seu caminho em direção ao desenvolvimento, um modelo de crescimento 2.0 que combina sustentabilidade, qualidade de vida, inteligência e inovação.

Paulo Cesar Esmeraldo é diretor geral do CESI Brasil – multinacional italiana da área de energia