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Energia

Biomassa de cana precisa brigar para manter espaço

Setor assistiu à derrubada dos preços em 30% vinda de uma concorrente inesperada: a geração eólica.

Biomassa de cana precisa brigar para manter espaço

A indústria sucroalcooleira foi pega no contrapé. Ao disputar os leilões de energia para entrega em três anos, o setor assistiu à derrubada dos preços em 30% vinda de uma concorrente inesperada: a geração eólica. “O custo de implantação de uma usina eólica caiu pela metade nos últimos três anos”, pondera Emilio Rietmann, diretor executivo da Energias Renováveis do Brasil (ERB). “Para a biomassa de cana, o custo dobrou.”

Nos níveis atuais, a biomassa da cana só é viável com preços entre R$ 130 e R$ 140 por megawatt, diz Rietmann. Ainda assim, só para quem trabalha com cogeração térmica e elétrica simultaneamente, o que torna o processo mais eficiente e barato. Em agosto as eólicas venderam energia entre R$ 99,54 e R$ 99,58, preços inferiores até aos das térmicas a gás natural da Petrobras (R$ 103,26). Para Rietmann, será muito difícil os preços voltarem a patamares de R$ 140 por megawatt, como em 2010. Isso deve conter mais os investimentos do setor, freados há três anos.
 
Tradicionalmente cara devido aos custos elevados de instalação, a geração eólica ganhou uma aliada na crise financeira de 2008 que pôs a pique vários projetos na Europa. Com aerogeradores sobrando, a instalação dos novos projetos ficou mais atrativa no Brasil. Principalmente depois que o governo de São Paulo reduziu o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os equipamentos fabricados no Estado, em 2010.

As usinas sucroalcooleiras “foram surpreendidas pela melhoria da eficiência da energia eólica”, afirma Renato Queiroz, pesquisador do grupo de economia de energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com isso, o governo ficou em situação mais confortável para optar por diferentes fontes de energia alternativa. Além da hidroeletricidade, que responde por 70% do abastecimento elétrico do país, a energia da biomassa vai ter que brigar em preço com as térmicas a gás e a eólica em condições desfavoráveis.

Se o cenário não mudar, os investimentos não vão voltar com força, decreta Rietmann. “É pouco provável que a situação mude nos próximos dois anos.” Ele acredita que os preços tendem a subir um pouco depois que passar a onda de instalação de projetos eólicos com preços vantajosos, mas então serão os novos players quem vão determinar os novos níveis do mercado.

Para Rietmann, o setor de biomassa tem como alternativa a venda direta no mercado livre, incentivada pelo governo. Hoje tem sido possível fechar contratos a R$ 140 por megawatt nesse mercado, valor considerado bom para o gerador e interessante para o consumidor. “Esse vai ser o papel da biomassa”, defende o diretor da ERB.

Para a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), o problema para a geração por biomassa de cana está nas “condições desiguais” que o setor enfrenta em relação às fontes concorrentes. Segundo Zilmar José de Souza, gerente em bioeletricidade da Unica, a geração eólica tem condições de financiamento e isenção fiscal que o setor de biomassa não dispõe. A maior parte dos projetos de novos parques eólicos está no Nordeste. Portanto, encontram crédito a juro subsidiado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB) com taxas que nem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece.