Alimentos e energias sustentáveis - por Antonio M. Buainain
Mais uma vez o Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio promoveu debate sobre temas estratégicos para a economia brasileira: o papel e a oportunidade de o Brasil assumir a liderança nos campos da oferta de alimentos e energia renovável de forma sustentada e crescente neste século.
As oportunidades são claras e conhecidas. Segundo a OCDE e a FAO a oferta mundial de alimentos precisa crescer 20% até 2020, e o Brasil é um dos poucos países com potencial básico para responder a este desafio. O futuro da energia renovável já não depende da disponibilidade da energia fóssil nem das oscilações dos preços do petróleo, mas das crescentes pressões da sociedade por energias limpas que mitiguem a bomba do aquecimento global. Isso significa que, "com ou sem crise de petróleo, é fundamental ter uma participação maior das fontes renováveis no mix energético global. O Brasil saiu na frente com o biocombustível proveniente da cana-de-açúcar e a exploração dos recursos hidrelétricos e não pode perder as enormes vantagens que esse pioneirismo oferece". As oportunidades são ímpares e aqui se poderia aplicar, com propriedade, o já famoso bordão do "nunca antes neste país". Mas aproveitá-las e transformá-las em motores de desenvolvimento sustentável exige mais que bordões e boas intenções. Para os conferencistas "a receita é conhecida, mas precisa ser colocada em prática"; chamaram a atenção para algo óbvio, mas que não é compreendido entre nós: produzir e colocar alimentos e energia renovável no mercado é um negócio complexo e arriscado, que requer investimentos vultosos, contínuos e sustentáveis em infraestrutura, inovação tecnológica, recursos humanos, gestão e instituições. Estas exigências perpassam todos os setores da economia e envolvem produtores, agroindústrias, prestadores de serviços e setor público, e por isso mesmo têm potencial para beneficiar o conjunto da sociedade.
O agronegócio brasileiro atingiu um estágio no qual já não é possível continuar crescendo sem coordenação entre os principais participantes das cadeias produtivas, incluindo o setor público. Os investimentos dos produtores dependem das condições, regras (instituições) e políticas definidas em grande medida pelo Estado. Nos últimos dez anos tivemos vários exemplos de impasses institucionais que atrasaram o desenvolvimento do setor, do veto velado à biotecnologia transgênica à reforma do código florestal, que tiveram como pano de fundo certa incompreensão sobre o papel positivo do agronegócio para a sociedade brasileira e uma forte ideologização dos debates, às vezes alimentados por setores do próprio governo. Não se trata, naturalmente, de suprimir as diferentes visões do mundo que animam as controvérsias, sem o que não haveria democracia de fato, mas, sim, de buscar convergências, dentro do paradigma do desenvolvimento sustentável e da emergente economia verde, para criar condições para reforçar o papel desenvolvimentista do agronegócio brasileiro. Nesse sentido, os debates de ontem contribuem para superar as polarizações, inúteis e paralisantes, e apontar rumos para o setor.
Em um contexto de preocupação quanto ao futuro da indústria brasileira, Luciano Coutinho (BNDES) lembrou que as cadeias produtivas do agronegócio podem contribuir, e muito, para valorizar vários segmentos da indústria nacional e de serviços modernos que produzem meios e agregam valor à produção primária. Para tanto é necessário "desenvolver os estímulos vitais para as cadeias crescerem com base na inovação e na utilização eficiente e sustentável dos recursos naturais, e para agregarem valor com a biotecnologia, a logística, o uso da tecnologia de informação e a aplicação de inovações nas etapas de processamento, conservação e comercialização". De duas coisas não se duvida: do potencial brasileiro para produzir, de forma sustentável, alimentos de qualidade e seguros e energias renováveis e limpas e de que realizar esse potencial transcende o agronegócio stricto senso e envolve toda a sociedade, nos esforços e nos benefícios.
ANTONIO M., BUAINAIN, PROFESSOR DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP, ANTONIO M., BUAINAIN, PROFESSOR DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP - O Estado de S.Paulo
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