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Agronegócio

Acordo esvazia poder da Veremonte na Vanguarda

Holding do megainvestidor espanhol Enrique Bañuelos, transferiu suas ações para o produtor rural Otaviano Pivetta. Em troca, o Pivetta aceitou retirar os processos judiciais que movia contra Bañuelos.

A disputa entre os sócios da Vanguarda Agro chegou ao fim ontem. A Veremonte, holding do megainvestidor espanhol Enrique Bañuelos, anunciou que transferiu suas ações para o produtor rural Otaviano Pivetta. Em troca, o produtor aceitou retirar os processos judiciais que movia contra Bañuelos.

O acerto é uma vitória pessoal de Pivetta, que voltou a ser o maior acionista de uma das maiores companhias agrícolas do País, com valor de mercado de aproximadamente R$ 880 milhões e, de quebra, esvaziou o poder de seu desafeto na empresa.

A Veremonte detinha pouco mais de 266 milhões de ações da Vanguarda Agro, por meio dos fundos Vila Rica e Tiradentes, que correspondiam a aproximadamente 12% do capital social da Vanguarda Agro. Com o acordo anunciado ontem, essa participação foi reduzida a marginais 0,51%. À holding restou ainda a opção de comprar cerca de 49,4 milhões de ações, que correspondem a 2,1% do capital social da empresa.

Pivetta, que possuía 16,3% das ações da Vanguarda, viu sua fatia individual subir para 27,8% – somados os papéis nas mãos de familiares, essa participação chega a 32,3%. O produtor terá como maiores sócios os irmãos Hélio e Salo Seibel, cujo grupo detém 20,5% dos papéis da companhia – o que fazia deles os maiores acionistas da companhia até o fechamento do acordo.

A família Seibel é proprietária da Leo Madeiras, sócia da rede de materiais de construção Leroy Merlin e uma das principais acionistas da Duratex. O investidor Silvio Tini permaneceu com 5,7% das ações da Vanguarda Agro.
O espanhol não recebeu um único centavo pelas ações repassadas a Pivetta. Os papéis foram usados para saldar uma dívida não paga com o produtor que superava os R$ 100 milhões. Segundo o Valor apurou, esse montante era referente à aquisição de ações da antiga Vanguarda Participações, de Pivetta, ainda no começo de 2011.

Sem o pagamento, Pivetta teria sido obrigado a vender parte da Vanguarda Agro ao BTG Pactual para o pagamento de uma dívida em janeiro. Esses papéis, que correspondiam a cerca de 10% do capital da Vanguarda, foram leiloados pelo BTG e arrematados pela família Seibel.

Após o acerto anunciado ontem, os acionistas elegeram a nova presidência do Conselho de Administração e os diretores executivos da companhia. O escolhido para presidir o Conselho será Salo Seibel.

Além de reconstruir a imagem da Vanguarda Agro, que ficou arranhada após a cisão entre Bañuelos e Pivetta, Seibel terá o desafio de equalizar as dívidas da companhia, que somavam R$ 483,4 milhões ao fim do terceiro trimestre, de acordo com o balanço da companhia referente ao primeiro trimestre.
Segundo Seibel, o valor hoje está ao redor de R$ 410 milhões. “Ainda é um valor elevado, mas muito inferior aos R$ 617 milhões devidos em setembro do ano passado”, afirma. O novo presidente considera ainda que a empresa ficaria numa posição “muito confortável” se reduzisse o montante devido em mais R$ 150 milhões.

Seibel afirma que a empresa tem tempo para estudar “com calma” as alternativas para estrutura de capital e financiar seus planos de expansão.
A ideia de criar um fundo de terras, um dos principais pontos de discórdia entre Pivetta e Bañuelos, não foi totalmente descartada, mas perdeu força. “O mercado sinaliza que essa é uma possibilidade, mas há muitas questões sobre o modelo que precisam ser discutidas antes de colocá-la em prática”.

A proposta defendida pelos gestores da Veremonte era colocar as terras próprias da Vanguarda Agro (cerca de 100 mil hectares) em um fundo de investimento, que captaria recursos para abater as dívidas e financiar a aquisição de terras “brutas” nas chamadas novas fronteiras agrícolas, como a região entre Maranhão, Piauí e Tocantins.

A Vanguarda avalia ainda a possibilidade de vender uma pequena parte de suas terras próprias para investidores que aceitassem arrendá-las para a companhia. Seibel disse ainda que quer estreitar as relações da empresa com o mercado financeiro. “Não trabalhamos bem o mercado de capitais, não conversamos com potenciais investidores, não temos cobertura de bancos e somos desconhecidos no exterior. Precisamos mudar isso”, resume.

A Vanguarda Agro nasceu da incorporação do grupo Vanguarda pela Brasil Ecodiesel, de Bañuelos, em agosto do ano passado, em uma transação de R$ 1,1 bilhão. Meses antes, a Brasil Ecodiesel havia adquirido os ativos da Maeda, um dos maiores produtores agrícolas do país. Em comunicado, a Veremonte declarou que a decisão de sair da Vanguarda deveu-se a uma divergência de opiniões e que chegou a “ótimos termos” com os atuais acionistas da empresa.