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A principal variável agora é o consumo do etanol

Boletim Cana30: resumo de abril e os pontos selecionados para maio  

A principal variável agora é o consumo do etanol

Na cana… A UNICA fechou o balanço da safra 2019/20 do Centro-Sul. Em termos de cana processada, foram 589,9 milhões de toneladas, praticamente 3% a mais. O ATR ficou 0,5% acima, chegando a 138,57 quilos por tonelada. A produção de etanol foi a maior da história: 33,24 bilhões de litros, 7,39% a mais, incluindo 1,62 bilhão de litros de etanol de milho. O mix para açúcar foi o menor em 22 anos, ficando em 34,32%. Com isso, o Centro Sul produziu 26,729 milhões de toneladas de açúcar (0,83% a mais).

Quando se colocam os dados do Brasil como um todo, incluindo o Nordeste, segundo a CONAB o fechamento da safra 2019/20 entregou 35,6 bilhões de litros de etanol, aumento de 7,5%. No açúcar foram 29,8 milhões de toneladas, 2,6% a mais. Total de 643 milhões de toneladas de cana, 3,6% a mais em uma área de 8,4 milhões de hectares, 1,7% menor. Dos 35,6 bilhões de litros, 34 bilhões foram de cana (5,1% a mais) e 1,6 bilhão de litros de milho.

Sobre a safra que está em andamento, a Archer estima para o Centro-Sul uma produção de 596 milhões de toneladas, 2,25% acima da safra anterior (582,9 milhões de toneladas de cana). Deverão ser produzidos 35,8 milhões de toneladas de açúcar e 26,2 bilhões de litros de etanol. Com isso, teremos 7,3 milhões de toneladas de açúcar adicionais.

Para o Centro-Sul, a Job estima 37,5 milhões de toneladas de açúcar versus 26,73 milhões na temporada anterior, e no etanol caindo de 31,6 bilhões de litros para 25 bilhões de litros. O total do Brasil cairia de 34 bilhões para 26,8 bilhões de litros. Acredita-se que a demanda neste ano cairá 16%, ficando em 28 bilhões de litros. A exportação será de 1,5 a 2 bilhões de litros com uma safra ao redor de 594 milhões de toneladas.

O complexo sucroalcooleiro cresceu suas vendas externas no mês de março em 33,5%, alcançando US$ 490,24 milhões.

A demanda voltará, mas a produção sofrerá com a falta de investimentos, tanto nos canaviais quanto na indústria, o que acende um alerta para a safra 2012/22. Quem tiver condições de investir no canavial neste momento, considero uma boa aplicação. A depender do que acontecer com os preços da cana neste ano, podemos ter mais áreas migrando para soja e milho.

Nos primeiros 15 dias da safra, a moagem cresceu fortemente e, também, o mix para açúcar pulou de 23,5% na safra anterior para quase 40% nesta.

No açúcar…S&P Global Platts estimou que o déficit de açúcar na safra 2019/20 será de 5,45 milhões de toneladas, devido à crise que deve afetar o consumo. Essa queda poderia superar 5 milhões de toneladas.

A Índia e a Tailândia sofreram quebras na safra 2019/20 de cana, reduzindo sua produção em mais de 20%, o que é uma boa notícia num momento onde o Brasil precisará expandir os volumes de exportações. Em março, estas exportações cresceram 48,6%, atingindo US$ 441,08 milhões.

Em relação aos preços, o açúcar chegou a cair abaixo de 10 cents/libra peso, graças ao espinhoso quadro mundial e também à desvalorização do real.

A JOB estima que produziremos 41 milhões de toneladas de açúcar nesta safra, contra quase os 30 milhões da safra anterior. Prevê que exportaremos 29,80 milhões de toneladas contra 19,44 milhões da safra 2019/20. O mix será de 48,4%, contra os 35% da safra anterior. Com isso na safra 2020/21, o mercado mundial deve voltar a apresentar superávit. Archer estima a produção de açúcar em 35,8 milhões de toneladas no Centro Sul. Da safra 2020/21, cerca de 17 milhões de toneladas de açúcar já foram fixadas, contra 11 milhões da safra anterior, sendo o maior percentual de fixação já levantado pela empresa (87,5%). O valor médio foi de R$ 1.300 a tonelada (com prêmio de polarização e entregue em Santos-SP). Em 2019/20, o preço médio foi de R$ 1.163 a tonelada.

Para nossos produtores, a Archer Consulting lembra que o câmbio é algo que tem ajudado bastante na comparação com os concorrentes. Em 12 meses, o Real perdeu 26%, enquanto que na Índia a desvalorização foi de 8,4% e na Tailândia de 3,7%. No fechamento da coluna estava a 10,40 cents/libra peso, isto daria um preço de quase R$ 1.400/tonelada colocados em Santos, interessante para já fixar parte do açúcar de 2021/22. Este baixo preço do açúcar deve fazer estragos nos concorrentes do Brasil, abrindo mais chances para recuperação mais adiante por reduções de oferta, a se observar.

Tereos no Brasil deve alocar 68% da cana para açúcar, contra 60% da safra passada, creem que a média do setor deve ser de 45%, contra 34% do ano passado. As exportações devem saltar de 50 para 60% do que é produzido pela empresa. Já a Raízen deve usar 55% das 63 milhões de toneladas de cana que espera processar para açúcar, elevando em 6% na comparação com a safra 2019/20 e fixou aproximadamente 85% da sua produção, bem como 50% do etanol a ser produzido.

O preço do açúcar deve recuar um pouco no mercado interno também devido à redução no consumo de alguns produtos que usam açúcar. Algumas indústrias como refrigerantes, por exemplo, mostram grande retração na demanda e isso derruba também o consumo do açúcar.

No etanol…abril entra para a história por ter sido o primeiro momento onde vimos preços do barril do petróleo abaixo de zero. Surreal. O consumo caiu muito devido às políticas de isolamento, no mundo todo, e os problemas com estoques de petróleo começaram a se agravar. A queda brutal do consumo no Brasil com o isolamento também derreteu os preços do etanol, que caíram mais de 30%. De R$ 2,05/l para R$1,45/l, sem os impostos.

Esse é o principal problema do setor hoje. Temos cerca de 350 unidades industriais operando no Brasil, cerca de 270 no Centro Sul, sendo ao redor de 80 destilarias apenas de etanol. O ano de 2020 será novo desafio ao setor que já tem, segundo a ÚNICA, 104 unidades em recuperação judicial (81 no Centro-Sul). Uma parte das destilarias e usinas tem baixa capacidade de estocagem e observaremos compras de etanol feitas por grupos capitalizados e estocagem deste, agravando os hiatos existentes no setor e ganhando com esta operação.

Em relação às medidas de apoio ao setor, deve ser aprovado um aumento da CIDE de 10 para 30 centavos por litro, aumento de impostos sobre a gasolina importada e uma linha para financiamento da necessária estocagem. As usinas que mais precisam são as que mais terão dificuldades para conseguir, pesando muito o elevado endividamento do setor.

Lembremos que o isolamento começou para valer na metade de março, e os dados da primeira quinzena foram bons, portanto, segundo a UNICA, a queda de vendas foi de 17,5%, ficando em 1,4 bilhão de litros. O anidro caiu 4,8% no mês, ficando em 774,85 milhões de litros. Março não se transformou em grave problema, pois a primeira quinzena compensou a segunda. Já os dados de abril devem ser desastrosos, entre 40 a 50% do normal, ou talvez até menores. Tivemos quedas maiores no consumo dos grandes centros urbanos, nas cidades menores e nestes centros, nos bairros de renda mais elevada observam-se ainda as maiores quedas. As exportações de etanol também caíram 30,6% em março, trazendo US$ 47,90 milhões.

Archer estima que a produção de anidro neste ano cai 9%, ficando em 9 bilhões de litros, a de hidratado fica em 17,172 bilhões de litros, 25% menor.

Os investimentos no etanol de milho também devem sofrer atraso, e a estimativa do que seria produzido neste ano deve cair uns 500 milhões de litros. Nos EUA a crise é grande também. ADM suspendeu a produção de etanol de milho por 4 meses em duas de suas unidades nos EUA.

Após a pandemia, deve crescer o uso de etanol para fins de higiene, como o álcool em gel e outros formatos. Usinas devem estar atentas para este mercado, tanto para fins industriais como residenciais. 

O valor do ATR em abril fechou pouco acima de R$ 0,70/kg, um bom número para começar a safra. Se o consumo do hidratado se recuperar mais rapidamente que o esperado, ainda temos condições de recuperar parte do que foi perdido neste início com o andamento da safra.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar agora em maio na cana:

  • Acompanhar a política de isolamento e impactos no consumo de combustíveis no Brasil. Principalmente a velocidade de recuperação do consumo em maio.
  • Acompanhar os impactos do coronavírus no crescimento econômico mundial e brasileiro e nos preços do açúcar e do petróleo, principalmente. Ao fechar a coluna o barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 20 e o açúcar a cerca de 10,40 cents/libra peso.
  • O clima e o andamento da safra no Brasil, e se teremos impactos com as restrições operacionais colocados pela crise do coronavírus. Por enquanto a safra vem vindo muito bem.
  • Quais as políticas que serão oferecidas pelo Governo ao setor de etanol.
  • O andamento da safra de açúcar no hemisfério norte e o déficit na produção advindo das quebras. Até agora as notícias são de aumento das quebras, o que seria bom para os preços.