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Bioeletricidade

A solução pela cana: qual é o potencial de produção da bioenergia no Brasil?

Aproveitamento da cana como fonte de energia é bastante viável do ponto de vista econômico, mas não pode ser entendido como solução única para o abastecimento energético do país

A solução pela cana: qual é o potencial de produção da bioenergia no Brasil?

A biomassa vem ganhando cada vez mais importância para a geração de energia no Brasil, contribuindo significativamente para os esforços de redução das emissões de CO². Respondendo pela maior parte desse recurso natural renovável, a cana-de-açúcar tem sido a grande aposta do setor. Mas qual seria o verdadeiro potencial da bioenergia no país?

De acordo com o gerente de Bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar de Souza, uma importante vantagem da utilização da cana-de-açúcar é o fato de que a geração de eletricidade a partir do seu bagaço, que resulta da fabricação de açúcar e etanol, serve tanto como produto a ser vendido para a rede nacional como para consumo próprio nas usinas.

“Desde o ano de 1987, nós temos aí a atividade de geração de excedentes de energia elétrica, além do que eu preciso para o autoconsumo. Então, desde 1987, as usinas começaram a exportar energia elétrica para a rede também, para o Sistema Interligado Nacional (SIN), de tal forma que, hoje, nós temos, do total de usinas que existem no país — o dado que nós temos é de 2017 —, 367 usinas, todas produzem energia elétrica para o autoconsumo, o que já é algo bastante relevante do ponto de vista da sustentabilidade da indústria. Mas, desse total, 209 usinas, ou seja, 57% do total, já produzem não só para o autoconsumo, mas também excedentes para a rede de energia elétrica do Brasil. No ano passado, a nossa produção para a rede foi equivalente a atender algo como 11 milhões de consumidores o ano inteiro”, disse o especialista em entrevista à Sputnik Brasil. “Então, já é bastante representativa essa atividade junto ao setor sucroenergético, mas também ela é bastante estratégica para a matriz energética brasileira atualmente.”

Zilmar de Souza explica que o aproveitamento da cana como fonte de energia é bastante viável do ponto de vista econômico, mas não pode ser entendido como solução única para o abastecimento energético do país. Segundo ele, o Brasil tem uma demanda ainda reprimida e crescente por energia elétrica, que deve ser atendida com o uso de diferentes fontes sustentáveis.

“Na verdade, você tem um portfólio de soluções. Então, juntamente com eólica, solar… São fontes que podem ajudar bastante a atender essa demanda no Brasil, que ainda é crescente. Hoje, só para você ter uma ideia do potencial que nós temos, aproveitamos apenas 15% da geração de energia elétrica para rede a partir da biomassa da cana. Então, a nossa produção do ano passado para rede poderia ter sido sete vezes superior. Então, ainda tem uma grande avenida, um grande potencial a ser explorado a partir da bioeletricidade.”

Atualmente, a matriz energética brasileira possui uma participação bastante significativa de fontes renováveis: 43,2%, segundo informações da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), contra apenas cerca de 14% na matriz mundial. Ocorre que, no caso da eletricidade, a geração de energia no país apresenta uma dependência muito grande do segmento hidráulico, superior a 65%, o que pode implicar em certas inconveniências. Além da questão ambiental, a escassez de chuvas e a consequente redução dos níveis de água nos reservatórios, por vezes, encarece a produção e a distribuição da energia elétrica.

Para o gerente de Bioeletricidade da UNICA, o aumento da participação da biomassa na geração de energia elétrica pode ajudar a reduzir esse problema. Ele destaca que, não coincidentemente, em 2017, “91% da geração para rede a partir da biomassa da cana ocorreu entre abril e novembro, que é justamente quando as hidrelétricas estão esvaziando os reservatórios”. A estimativa, ainda de acordo com o especialista, é a de que tenha sido poupado “o equivalente a 15% da água dos reservatórios das hidrelétricas nos submercados sudeste e centro-oeste do país, que respondem por 60% do consumo no Brasil”.

“Então, quanto mais bioeletricidade, mais eu consigo mitigar esse efeito da escassez hídrica, do risco hidrológico”, disse Souza, sublinhando, em seguida, a necessidade de um refinamento do planejamento energético no país.